Brincar de viver
Brincar de viver
Tenho pensado muito em escrever sobre a chuva. Este dezembro tem sido mais chuvoso do que o de costume e isso se torna mais que especial. É que eu gosto da chuva e do que ela me faz sentir. Desde quando é apenas um anuncio de sua vinda, e sinto seu cheiro quando as primeiras gotas tocam a terra, até o seu cair na vidraça, ela já é vida em mim.
O céu cinzento me acolhe e me faz sentir uma melancolia prazerosa. Dá vontade de me abraçar. Os pensamentos saltam aos olhos e me fazem sorrir por dentro.
Abro a cortina para ver o seu cair na esperança de que toda aquela beleza adentre minha casa. É como se fosse o sol às avessas. O meu iluminar.
Tem pessoas que sentem-se desanimadas e tristes em dias chuvosos. Eu me sinto aconchegada e inspirada. Se não escrevo, penso. Desacelero. Me encontro.
O seu barulho quando toca o chão é uma música perfeitamente orquestrada. Ouço todas as notas musicais. Os trovões sons de alerta e pausa. O céu se ilumina com riscos e sons.
Se fecho os olhos ainda posso ouvi-la e a sinto tocar meu íntimo, onde guardo memorias ou crio locais. Eu posso pensar que não estou em um prédio em meio a cidade, mas em uma casa de campo no alto de uma montanha onde o seu molhar toca primeiro as árvores e depois o chão de terra. Sinto seu aroma.
Se abro os olhos vejo a realidade: o vidro coberto por gotinhas de água desalinhadas que formam uma cortina natural. De olhos fechados ou abertos eu a sinto com seu barulho, cheiro e sentimento. Da vontade de brincar de viver.