LOCAIS DE CULTO
Desde que o ser humano reconheceu que por seu físico frágil, a sua incapacidade de se deslocar em alta velocidade, de enxergar sob baixa luminosidade, a falta de elementos naturais para defesa, como garras, cascos, chifres, dentes capazes de dilacerar os oponentes e pele grossa, chegou então à conclusão de que além da companhia de semelhantes, havia a necessidade de um ser sobrenatural a quem poderia recorrer em situações, digamos, abracadabrantes.
Este ser sobrenatural, com capacidade de metamorfoses inimagináveis aliado ao medo que é inerente aos animais mais evoluídos, biologicamente falando, fez com que a imaginação criasse os seres mágicos das florestas, das águas, das cavernas que se manifestavam pela fúria dos elementos ou através dos predadores, principalmente os noturnos, e para acalmar esses seres bem mais fortes, o homem criou os locais de culto para exercer a convivência pacífica e o mal ser neutralizado pelas oferendas e sacrifícios, praticando o “toma lá, dá cá”, nem sempre cumprido à risca pelas partes envolvidas.
Os tempos mudaram, a ciência provou a inexistência de deuses, fadas, ninfas, gnomos, elfos, duendes, lobisomens, unicórnios e dragões, a luz elétrica desalojou os fantasmas das casas mal-assombradas e a meteorologia já prevê com certa regularidade as convulsões da natureza...
Mas a ideia de culto ao sobrenatural continua, até hoje, impregnada na maioria das pessoas. Tanto isso é verdade que os pesquisadores da Arqueologia não perdem a oportunidade de atribuir qualidades mágicas a quaisquer objetos ou “batizar” de local de culto os recintos ou construções antigas cuja destinação não esteja indubitavelmente caracterizada.
A qualquer estatueta feminina lhe é atribuída o título de deusa, da fartura, da fecundidade, do amor, etc. quando poderia muito bem ter sido apenas um brinquedo infantil. Se esse costume se perpetuar, provavelmente nos próximos milênios, todas as bonecas Barbie remanescentes serão deusas...
Aos locais como Stonehenge (Inglaterra), pirâmides de Quéops (Egito) e do Sol (México), ou o relógio do sol em Machu Picchu (Perú) se lhes atribuem poderes mágicos, quando poderiam ter sido tão somente marcadores dos equinócios de verão ou inverno, cujas partes ou detalhes são os marcadores da época do início das chuvas, das inundações do Nilo, do tempo ideal para os plantios, as colheitas, época adequada para tosquiar ovelhas ou alpacas, de abater aves ou mamíferos migrantes...
Mas, o que seria de nós se não pudéssemos imaginar deuses em formato de serpente emplumada, com corpo humano e cabeça de elefante, de chacal, de águia ou a Teoria da Relatividade Geral?
De idealizar e poder criar artefatos para as medições de áreas, do transcorrer do tempo e os veículos que nos levaram às regiões abissais dos oceanos e à lua?