Sobre cinamomos e saltos de cima do telhado
Dias atrás, estava andando na rua quando vi, no chão, um pequeno galho com bolinhas de cinamomo. De imediato, ergui o olhar, tentando localizar a árvore de onde ele tinha vindo. Não consegui, mas me senti transportada para a minha infância. Nela, havia um grande cinamomo ao lado de casa, ora repleto de pequenas flores pendendo para o lilás, ora repleto daquelas bolinhas.
Enquanto as bolinhas serviam de munição para espingardas feitas de taquara, as flores enfeitavam as brincadeiras de casinha. E as árvores, ah, as árvores, eram ótimas para subir nelas, cada vez mais alto, qual uma macaquinha. Amava me balançar nos seus galhos – um de meus sonhos era ser trapezista –, ou, então, simplesmente os usava de escada para alcançar o teto de algum galpão.
Sim, eu costumava subir em telhados (crianças, não façam isso!). Na casa do vovô Jacó, era sobre o comprido chiqueiro de porcos que eu me encarapitava, para alcançar melhor os galhos de outra árvore, uma amoreira, e passar o tempo me deliciando com aquelas doces frutinhas que me deixavam com as mãos e os lábios coloridos. Na casa de uma amiguinha, subíamos sobre um galpão para brincar de casinha – o teto de zinco tinha alguns furinhos, nos quais encaixávamos as flores de cinamomo.
Foi nessa época que começamos outra brincadeira um pouco mais, digamos, arriscada: pular do telhado. Passávamos horas fazendo isso, sobe pelo cinamomo, pula, sobe, pula, sobe, pula (mais uma vez: não sejam loucos de me imitar; eu não tinha nem um pouco de juízo naquela época). Não sei como nunca nos quebramos, mas devemos ter dado muito trabalho a nossos anjos da guarda.
Na verdade, acho que deixei meu anjo tão cansado que, num dia em que nós duas enfim brincávamos dentro de casa, ele deve ter cochilado e eu acabei no hospital, com cinco pontos na testa. Mas isso já é assunto para outra crônica...