____________________SEM RASCUNHO
Chaplin disse que a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Tenho que concordar. Esse “tudo em tempo real” traz junto um frio na barriga que não deixa brecha ao luxo das tentativas: coisas não feitas agora, no próximo minuto estarão mortas. Diremos então que a vida não permite rascunhos? Se não é isso, passa pertinho. E se “O cavalo selado só passa uma vez”, quem ficou parado, olhando para o “antonte” deixou ir embora sua chance preciosa. Resta chorar o leite derramado.
E se a vida tivesse rascunhos? Experimentar aqui e ali talvez nos abrisse horizontes de azuis tranquilidades. Errar menos? Talvez. Mas o tempo urge — ou somos nós quem corremos demais? — e o próximo momento nos pegaria ainda de lápis e papel na mão em fase de verdes filosofias. Pois vejam: ontem era 2022; hoje, 2023 dá o comando. Quem ficou à beira da estrada esperando o tempo passar, ficou por ali, e o tempo nem viu. As urgências reclamam, os relógios avisam: o caminho é cada vez mais curto. A nós, só cabe viver. E assim, mesmo: sem ensaios, sem rascunhos. Quem sabe até letrando a vida sem qualquer compromisso, mas sem esquecer que o compromisso de viver não perdoa sequer um segundo perdido.
Tema: Letras sem Compromisso (crônica)