Um oi, a galinha, o gato e o Jenipapo absoluto.
Essa provavelmente vai ser a última coisa que eu escrevo. Calma. Você sabe que a gente não vive sem meia dúzia de palavras, escrever vai correr nas veias até não correr mais. Última que eu escrevo do ano. Vai ser mais lenta, vai ser menos um texto, mais um recorte, um registro.
A propósito, odeio despedidas, odeio tchaus, imagine só viver no encalço de um último adeus, toda vez. Acho que por isso essa mania de não terminamento das coisas, um enlarguecer dos fatos. Não sei muito bem o que falar sem ser piegas, óbvio, sem dizer tchau, sem elencar tudo que aconteceu com um sorriso nos dentes e roupa branca, que vai uma hora ou outra, acabar virando final de ano da globo. Ano novo tem um quê meio cafona, eu adoro.
Pesquisei, e a internet disse que uma crônica é um gênero textual que se dedica a falar de coisas do cotidiano, da política, dos costumes, vou pensar. Ah! Falando em tchau, o ex-presidente saiu acovardado hoje, foi simbora num avião pra Orlando, espero que fique por lá. Pronto. Já se foi minha cota de política desse texto. Pros costumes falarei da minha família, e pro cotidiano vou falar da galinha e do gato.
Já sei! Já sei, pra fugir da despedida eu vou acabar no começo e começar do início. Vou acabar dizendo oi, E aí cada vez que parece que vai acabar, na verdade só tá começando, deu pra entender? Ok.
Comecei a escrever isso aqui quando ouvi aquela música, "Jenipapo absoluto" pesquise. Linda música. Fui atrás da letra, da história. Aliás, parêntese. Isso é quase uma agonia, um comichão, um negócio assim sei lá. Quando eu descubro algo, alguém, alguma coisa, eu pesquiso tudo que dá, como se entender fosse fazer a coisa um pouco mais eu também. Daí tem esse pedaço, dele falando da música "Ele tinha certa cumplicidade comigo numas coisinhas assim. E algunas eram cruciais, como essa, espremer o jenipapo."
Espremer o Jenipapo. Espremer o Jenipapo. Fiquei perguntando pra mim o que era o meu Jenipapo, qual o seu? Quero dizer, quais as coisas que você fazia com seu pai, sua mãe? Conte, conte só se quiser.
Com mãe, de verdade, eu não lembro de um algo específico, lembro dela me carregando pra lá e pra cá na rua pra ir em médico, carregando nos braços, que nem uma formiguinha que ergue quantas vezes for necessário, mil vezes o próprio peso e o da cria, dela cozinhando sempre absurdos maravilhosos (ainda cozinha).
Com pai eu lembro das incertezas doloridas, das interrogações de saber ou não se íamos sair no fim de semana, de assistir desenho junto, das tardes boas, das brincadeiras. Ele é o tipo que eu chamo de alma magnética, que atraí com carisma, que faz fogo e faz festa. Hoje a gente riu na mesa do jantar, riu contando das brigas de criança, das histórias velhas, brigávamos muito, eu e minha irmã, coisa de criança.
Não tenho muito pra dizer que já não tenha dito. Depois me escreva, escreva quando o ano passar, conte qualquer bobeirinha, eu vou gostar. Esses dias, inclusive, tava voltando pra casa, noite, tinha ninguém na rua, aí olhei pro lado e vi um gato e uma galinha. Chafurdavam no lixo, cavucando no lugar comum que é a fome.
Engraçado, né? Achei a cena de uma beleza estranha, de uma sublimessência, não dá pra descrever. Me pergunto é como se formou a amizade. Fiquei assim parado, olhando como uma câmera humana. Coisa que inclusive, pensando agora foi uma atitude perigosíssima, pra não dizer idiota. Um ser humano parado, numa rua escura, a noite e deserta, é um alvo pra ocasião que faz o ladrão.
Tenho essa mania, de observar demais, um limbo pensamento, o gato e a galinha me fizeram pensar sobre a vida. Ela é mesmo a arte dos encontros, né? Mas enfim, vou parar de te encher, é que a saudade é grande, sabe? Fico tentando adiar, deixar pra depois.
Hoje já é amanhã, dia dois, o depois do depois. Já devia ter é terminado isso aqui, mas cada vez que chego num fim de parágrafo lembro de algo pra falar, algo que acabo não falando.
De qualquer forma, escrevi isso aqui só pra perguntar mesmo, querer saber como anda por aí e coisa e tal, eu acho até que eu vi um meme, ou li uma crônica que me fez lembrar de você, mas acabei esquecendo. Outro dia eu lembro
Lembro de não esquecer.
Oi... até logo.