A CONTRADIÇÃO DO AMOR
O amor é mais uma peça que nos pregam do que uma graça com a qual sonhamos, aquela gota de nada que repentinamente se modifica em tudo, um luar esplendoroso capaz de virar penumbra constante. Porque o amor muitas vezes é muito, mas quase sempre parece mísero, e se deseja algo além do que pode receber desiste, esboroa, assim como morre ao mesmo tempo em que lá bem no recôndito se esconde e brota quando menos se espera.
Se um dia o amor olhou na mesma direção, seus olhos toldaram, a visão turvou e ele tornou-se aborrecido, ranzinza, calado, casmurro. Talvez pela irritação do tempo e da rotina, ou por causa da mesmice de um só encanto sem a beleza periférica abundante e esquecida durante os poucos dias e anos da jornada romântica. Sem dúvidas, cansa seguir a mesma direção sem titubear, sem questionar, sem mudar. Assim o amor, numa explosão de sentimentos e emoções contraditórias, termina chutando o pau da barraca e derramando o leite do balde também chutado.
Amar e ser amado não é apenas muito bom, na verdade é excelente! Mas sendo volátil e rebelde o coração humano, o amor de outrora pode virar um ódio inesperado, um peso insuportável, um ar irrespiravel. Quem já muito amou, ou assim pensou, e agora não ama mais, se algum dia realmente amou, conhece esse deslize da razão. Não significa que desistirá para sempre do amor, longe disso, continuará em sua desesperada busca para encontrá-lo e fazê-lo até que a morte separe a união de dois entes apaixonados. É que o amor é assim mesmo cheio de contradições. Porém, como ainda não inventaram nada melhor...