Bicho homem
Bicho homem
O homem é um bicho véio besta, carrega tanta crendice, superstição, rancor e desamor; ao mesmo tempo é destemido, luta contra a maré e dá de cara com o perigo. Leva no bolso um patuá, na mão, a palavra do Senhor; mas o dedo aperta o gatilho e os olhos testemunham a dor. São homens sem coração, remorso nem pensar. No corpo tatuam Jesus Cristo pregado na cruz como ato de fé, e a frase amor só de mãe é oração de quem vive só. São tantas contradições que piram o cabeção e Freud não saberia explicar. Quem briga por você é inimigo, e quem te usa é o melhor amigo; e nessa relação, a fidelidade é produto perecível, e a amizade fica por conta de quanto eu posso pagar. O homem é mesmo um animal racional? Ao menos na definição. Em outro aspecto é complexo, pois escolhe fechar os olhos para o irmão necessitado, e a cegueira social não é patologia, é falta de Deus no coração. E, tem alguns, que doam esmola, não amor. Acorda agradecendo por estar vivo, se blinda com uma forte oração, borrifa água benta que é para quebrar as forças malignas, pede paz e proteção. Contudo, o rito é pessoal, o resto que rale o joelho, os recursos são limitados, então, eu primeiro. Não mede esforços para derrubar o outro, e na sua frente tem sempre um sorriso. Tudo é feito pelas costas que é para parecer bonito. O homem sem qualidades é assim, forjado nas aparências; Deus para ele, e o pior para mim. Vem armado para uma guerra, atira a primeira pedra e espera bandeira branca.