TPM - Tempo de Prestigiar a Morte
Têm dias já que ando com uma fúria crônica! Ontem a minha menstruação desceu. Mas não desceu sozinha...
Às vezes sinto que só conheço a dor. Me revolto! Exijo amor! Que loucura a minha. Amor não se exige, faz-se! E bem sei que a falta de fazer amor cultiva ainda mais a dor... Por isso, faz sentido que a mulher tenha em si um órgão único, exclusivamente para lhe dar prazer! São muitas as dores que uma mulher conhece, e com muito mais propriedade que qualquer homem! A natureza de dar à luz só pode existir através de grande dor. E quando não, dá-se à escuridão do vermelho-rubro do sangue menstrual! Veja bem, a dor é a professora inflamada que carregamos em nosso ventre. Ela oscila durante todo o ciclo, mas está sempre aqui e ali. Poderia citar aqui inúmeras alterações fisiológicas que irrompem por todo o corpo feminino a cada menstruação. Mas todas elas podem ser conhecidas e discutidas com facilidade desde que haja um gênio disposto a fazer uma breve pesquisa.
Pouco mesmo é o que se fala das emoções femininas reais. Do medo que aprendemos a sentir do amor. De tanto já saber que o destino da mulher é fugir de um senhor para encontrar outro logo ali! Do que deveria ser a nossa casa, a família exerce uma importante função! A de nos quebrar em pedaços o quanto seja necessário. É necessário entregar uma mocinha bem domesticada! Alguém de pouca personalidade e muita resignação, que reproduza a família sem cobrar seu quinhão! Machucadas, acossadas e assassinadas por nossos companheiros. E a resposta é sempre a mesma: "Que mulher pode querer ter o pau maior que o do cara"? - Disse o meu vizinho para outro rapaz, ao se referir sobre sua parceira ter se recusado a fazer-lhe comida. Eu ri de amargura daquela frase! E pensei: "Nenhuma! Neh?!"
A recôndita e amarga ira de sempre ter ouvido que mulher bradar de raiva é histeria! Para eles, o nosso cuidado não é mais que obrigação. Aprendemos primeiro a cuidar dos nossos irmãos, para que nossas mães possam trabalhar fora e sustentar a casa. Em paralelo a isso, somos obrigadas a cuidar também da limpeza da casa, da limpeza das roupas e até do preparo dos alimentos. Nada disso é ruim de se aprender. Ruim mesmo é ter de ouvir que a nossa recusa é insubordinação, e que o nosso esgotamento é autopiedade. Ou, ainda, ter desvalorizado todo o nosso trabalho de reprodução de toda uma família. Afinal: "O que pode, uma mulher, querer mais do que ser uma boa irmã, uma boa esposa e uma boa filha?" Nenhum homenzinho de atitudes vis e cruéis será julgado com tanta veemência que uma mulher comum exercendo autonomia pelo seu corpo e sua vida! A raiva inflamada no âmago do meu sexo é o que verdadeiramente me dói.
O homem não experimenta a dor como a mulher. O homem deveria lembrar-se que só experimenta a vida porque, antes, viveu dentro de uma mulher. E tendo nascido, ainda precisou ser alimentado pelo leite de uma mulher! A nós, mulheres, talvez devesse caber abortar certos protótipos de vida. Antes que cresçam e decidam pendurar-se em nossas tetas, para delas se outorgarem donos!