Nossos detalhes
Torrencialmente, lá fora, a chuva caía. Os carros se amontoavam em pilhas gigantescas, de um infindo congestionamento. Lá dentro, ele organizava a desordem do armário, das gavetas, da vida. Em meio aos livros, um papel amarelinho cai, aguçando a curiosidade intrínseca à alma.
Estava ali, diante de seus olhos, mais uma vez, a carta do último adeus.
Mas, diferente das outras vezes, ele se encheu de coragem, e decidiu abrir.
Enquanto lia, sua mente rebobinou as cenas felizes, fez de trilha sonora as canções que juntos ouviam, e quando chegou na última linha, a saudade bateu feito quem esmurra uma porta trancada, impulsionando a busca por quem nunca deveria ter ouvido um amargo adeus.
No fim da carta tinha um número de telefone, que poderia ainda ser dela, ou de outra pessoa, mas ele só tiraria a dúvida se ligasse.
Torrencialmente, lá fora, a chuva caía. Lá dentro,o rei embalava a preguiça jogada no sofá. Detalhes tão pequenos daquele amor que eram tão difíceis de esquecer, subitamente, dividiram com ela o sofá, o caldo verde, e o matte. Logo, desejou estar com ele, imediatamente, quis voltar no tempo e nunca ter partido.
Esmagado pela saudade, ele decidiu tentar a sorte e telefonar.
Ela pensou nele, o telefone tocou, e um misto de emoções agarrou o coração.
Como nos clichês de novela, o número ainda era o mesmo, apesar dos 13 anos da data daquele bilhetinho.
A conversa transcorreu, cheia de lembranças, saudades, lágrimas, desculpas. Por fim, uma proposta; a de esquecer as águas passadas, e deixar fluir o rio do destino que insistia em desaguar naquele amor. Em meio ao romantismo do rei, um eu aceito, e um súbito fim para aquela longa ligação.
Torrencialmente chovia, a chuva ele enfrentava pois queria reencontrar sua garota.
Ela desceu às escadas, correu porta à fora, se aconchegou no recomeço do abraço dele. Sob a chuva eles dançaram, se encharcam com os pingos daquele velho novo amor que acabara de (re)nascer.
"Não adianta nem tentar me esquecer
Durante muito tempo em sua vida
Eu vou viver
Detalhes tão pequenos de nós dois
São coisas muito grandes pra esquecer
E a toda hora vão estar presentes
Você vai ver"(Roberto Carlos)