A porta
Mais uma vez você abre a porta e, sem aviso prévio, parte da minha vida. Leva os sonhos, as risadas e os afagos. Leva os segredos compartilhados muitas vezes. Leva a companhia gostosa de fim de tarde. Leva o aconchego e o cuidado. Leva tanto de mim, mas não me leva.
Sozinha pereço nesta casa sombria, silenciosa e triste. Olho nossas fotos espalhadas pelo quarto, onde fizemos juras de amor eterno. Choro incansavelmente, por não compreender os motivos de sua saída. Quanta saudade da sua voz a me enganar ao pé do ouvido! Quanta vontade do seu cheiro invadindo o meu corpo e o seu gosto alimentando a minha sede! A sua falta machuca sem piedade e pressa. Os segundos demoram a passar, então percebo que o relógio é cúmplice de seu teatro.
Já deveria estar acostumada com suas idas e vindas, mas sempre que você se afasta, a vontade de lhe ter me encobre o juízo. Esqueço de esquecer quem me magoa com frequência. Omito de mim a capacidade de ser feliz sem sua presença. Até que em um momento, o medo da solidão se dispersa e a coragem me encontra.
O tempo segue o seu rumo, quando em meio ao vazio ouço alguns passos se aproximarem. Era você voltando de novo para a nossa história. Porém, neste instante, vestida de sobriedade e bravura, fecho a porta que, durante um longo período, ficou entreaberta à sua espera. Por fim, o enredo se deslumbra com um final diferente e cheio de esperança.