O VELHO FOGÃO

O velho fogão à lenha foi soberano por muitas décadas em todas as cozinhas, independentemente de serem os paupérrimos feitos de barro ou os majestosos de ferro fundido com portas esmaltadas.

Raramente o fogo se extinguia, porque sempre havia algo a ser preparado e a variação de temperatura durante a queima do combustível natural, exigia longo tempo para a preparação dos alimentos, principalmente aqueles mais requintados.

Os que, como eu já passaram dos 70 anos, hão de lembrar que nas cozinhas sempre havia uma vara suspensa por sobre o fogão onde eram pendurados os defumados e as cascas secas, de laranja ou limão, que seriam utilizadas para dar início à ignição da lenha ou, mais tarde, do carvão.

Essas varas eram sustentadas por arames desde os caibros do telhado, vez que na maioria das casas, as telhas das cozinhas ficavam à mostra.

Em cada família havia aquele “especialista” em descascar a fruta numa só tira estreita e sem ferir os bagos.

Para acender o fogo era simples, a chama dos fósforos era transferida para a casca da laranja e dessa, com tempo de queima bem mais longo do que os fósforos, para as maravalhas, gravetos ou lascas finas enquanto o aroma delicioso e refrescante de laranjal em flor se espalhava por toda a casa.

Em muitos desses fogões havia local próprio para acondicionar os pedaços de lenha para que a secagem fosse acelerada pelo calor constante a fim de evitar a fumaça e o cheiro forte por dentro das casas.

Felizmente o passar do tempo trouxe os fogões a querosene, a gás liquefeito de petróleo, que hoje é maioria, os elétricos e finalmente os de micro-ondas, mas os velhos fogões continuam a inspirar as artes plásticas e textos como este que acabas de ler.