Uma moça casadoira de direito
Não há, oh gente, oh não, sorriso como esse do sertão. O dela é maroto, daqueles que pouco escancara, por dentro... Semblante com jeito de moça casadoira! Perambulando, acabei descobrindo seu recanto; em um quase esbarrão, sem querer. Nada falei e retribui o encontrão com meu sorriso escroto. Já no meio do fio tênue da vida, ainda me dou ao luxo - e ao lixo - deste meu sentimento de timidez.
Nesta incontinente sensação de liberdade, quem sabe – numa noite etílica qualquer - não “rasgo” uma poesia na sua janela e espero seu apreço ou revolta com aqueles que não gostam de assimilar regras e leis – “Ame-me ou deixe-me em paz!” Por enquanto, esperar; e esperar é a ingrata arte de não se viver o ontem - arte que nos acomoda na nossa covardia.
Talvez eu não seja espelho ao seu bom partido - afinal, sou predestinado aos torcicolos e tropeços da vida. Vivo esbarrando em percalços de boa conduta - mania de querer viver vislumbrando o alto. Não o alto do brilho, do poderio a todo custo, mas o da contemplação que me arroteia por todos os lados. Como consolo, neste quase meio crepúsculo de vida, vou repetindo meu epitagrama de cabeceira: “Espere o inesperado ou você não o encontrará...”
Numa dessas noites quentes sem glória, entre um zig-zag e outro, ia me seguindo: lambendo meus próprios calcanhares; trôpegos e cansados de incertezas. De repente, de uma só olhada, duas visões que já valeriam qualquer pedágio de vida: no umbral do seu apartamento, a moça com jeito casadoira - apegada à didática da busca do seu porto seguro; acima, recortada pelas copas das árvores, minha vexatória companheira de quase todas as noites. Duas mulheres em uma só aresta de sonhos de vida!
- E aí, podemos bater um lero....?”– O descontrole do teor etílico quebrando regras do bom falar poético.
E o momento, pra quem já vive olhando pra cima, veio a calhar. Ela, no alto, olhando-me cabreira; como quem vê um insulto inevitável à sua porta e sem nada poder fazer – apenas, por educação, um pouco de atenção. Eu, de torcicolo em punho – já cansado de olvidar os céus -, ouvindo-a. Perguntas curtas, respostas amenas: de onde era, o que fazia... Duas prosas de conversa e já se deu por satisfeita.
- Podemos conversar depois...? – Tarde demais para regras comportamentais de bom falar. Sem resposta! Deu-me as costas, deixando-me a ver cachorra a grito. Pensei retrucar sua ausência de supetão: “..afinal, a moça casadoira de direito cursava Direito...”
Com o pescoço já doendo de tanto olhar o alto, terminei meu ensaio de reles dotes de conquista. A outra, no aguardo; essa não larga do meu pé. Estou predestinado a aturá-la pelo resto da vida... Os passos prosseguem rumo ao covil, parecem seguir sozinhos. Uma última olhada no umbral politicamente correto: leis, regras, didáticas universitárias... E um sorriso maroto!
Acima do telhado, entre frestas de árvores mudas: segue-me minha cachorra no cio...!