CONFISSÃO DE UM VIRA-LATA
Sou cão vira-lata, carregando dentro de mim uma alegoria de genes e vidas. O meu sangue tem profusão de cores, cheiros e texturas. Minha alma é nômade e difícil de traduzir, tantas são suas matizes e raízes. Pra piorar a situação, acasalei com outra vira-lata e disso vieram crias, mais vira-latas do que tudo. É justamente essa colcha de retalhos que me traz a couraça, a âncora e as asas. Milhões de asas. Que essa vira-latisse nunca se transforme em pedigree, nunca esqueça de olhar pra trás e nunca, sobretudo, renegue aqueles que pisaram, esculpiram e abençoaram o seu chão.