Lembranças de infância II: Páscoa e Natal
Levei um bom tempo, mais que meus coleguinhas de escola, até descobrir que não havia coelho da Páscoa nem Papai Noel. Ainda assim, gostava que meus pais reeditassem todas as encenações. Tudo tem mais gosto e sentido de infância.
No domingo de Páscoa eu me levantava mais cedo do que de costume. Afinal, mal havia dormido à noite esperando pela visita do Osterhase (o coelho da Páscoa). Meus pais também se levantavam e, antes mesmo do café da manhã, íamos ao jardim, procurar pelos ovos que o coelhinho havia deixado para nós. Não era só para mim; era para a família, mas, claro, a maior parte ficava para mim mesmo.
O coelho da Páscoa era muito esperto: fazia pequenos ninhos com capim nos locais mais escondidos: atrás das árvores, no meio dos arbustos ou naqueles locais em que a gente simplesmente não espera que vá ter algo. Meus pais me acompanhavam na procura e se faziam de tontos. E o faziam com perfeição; eu nem suspeitava. E assim, eu ia encontrando todos, após um trabalho exaustivo e de muita ansiedade. Era Páscoa e haveria ovos no café da manhã.
O Natal também era único para mim. No dia 24 de dezembro, meus pais finalizavam as arrumações na sala e a entrada ficava proibida para qualquer um de nós. Porta da sala fechada! Nossa árvore era pequena, ficava sobre um rotor elétrico que girava bem devagar. A iluminação da árvore era só de pequenas e coloridas velas presas aos galhos por um suporte tipo pregador. Os enfeites e as bolas de vidro que, ano após ano iam quebrando pela fragilidade, eram colocados na árvore com zelo por mim, meu pai e minha mãe.
Por volta das 17h meu pai me levava a uma família próxima para os cumprimentos natalinos, enquanto minha mãe finalizava tudo em casa. A desculpa era que o Christkindl (o menino Jesus) entraria pela janela da sala e deixaria os presentes sob a árvore; ele não poderia ser visto por ninguém de nós para não se amedrontar e fugir sem deixar os presentes.
No dia seis de dezembro era o Nikolaustag (dia de São Nicolau) em que o Papai Noel passava de casa em casa, incógnito, para recolher as cartinhas escritas pelas crianças e deixar algumas guloseimas. Também tudo era feito às escondidas pelos meus pais e eu de nada desconfiava. E eu ficava numa ansiedade para saber se Christkindl traria mesmo o que eu pedira.
Por volta das 19h nós três entravamos solenemente na sala. As velas da árvore eram acesas e nós cantávamos pelo menos três músicas natalinas completas. A voz da minha mãe, de soprano afinado, enchia o volume da sala. Era de produzir lágrimas nos meus olhinhos esperançosos.
Depois disso, era a hora de conferir todos os presentes. Havia presentes para todos, mas especialmente para mim. Que alegria constatar que havia ganho o que pedira.
Depois dos presentes, íamos para a cozinha para uma modesta ceia, já que o almoço de Natal do dia seguinte era a refeição principal. Era a época em que meu pai comprava alguns produtos que só se viam sobre a mesa nesses tempos: nozes, castanhas, patês, pães especiais, tudo com gosto de infância feliz, saudável e em família.