VOU-ME EMBORA PRA ESPERAFICO
Vou-me embora pra Esperafico
"Aqui eu não sou feliz"
Lá terei privacidade
E tudo o que sempre quis!
Vou-me embora pra Esperafico
Aqui eu não tenho liberdade
Lá eu posso ir e vir,
Lá as pessoas sorriem numa boa!
Lá serei amigo de todos
Sem interesse e sem pieguice,
A propósito, terei tudo que quero,
Já estou cansado dessa mesmice!
Em Esperafico tem ar puro,
Os rios não são poluídos
Lá o sexo é sacrossanto,
As mulheres têm mais encanto!
Do pouco que eu tenho aqui,
Só levarei os meus minicalendários
Não quero mais nada daqui,
Só tem cupim no meu armário!
Vou-me embora pra Esperafico
Lá tem uma paz que aqui não tem
Lá, o ódio é sinônimo de amor
Ah! Lá as leis vigem bem!
Em Esperafico tem uma particularidade:
Lá quem chega, fica vislumbrado
Com as coisas boas do lugar
Lá quem fica, chega à morte esperar!
Em Esperafico tem Pena de Vida
Lá eu posso alcançar o progresso;
Os meus poemas ficam pra posteridades
Lá será a minha feliz-cidade!
Vou-me embora Esperafico.
*ESPERAFICO: cidade fictícia, no meu caso. Vagamente sei que existe uma Esperafico, mas não sei em qual estado do Brasil. Assim e aqui, será uma mera coincidência!
TEXTO INTERATIVO:
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Autor: Manuel Bandeira foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.