Ensaio sobre mim. (2)
Anacrônico,desconexo,um tanto disléxo carrego a dor, o plexo. De minha insanidade ergo o leve versejar, não menos enfático que meus valores. Da certeza absoluta dos erros,do vilipendiar-me internamente, do negar-me e concluir em acertos. Vontade não é certeza, urgente não é importante,ter jamais será ser. Versejo frases curtas,pontuadas para não caber dúbia interpretação do que e quanto há em mim, simples,direto e contido. Reminiscências de perdas,ganhos, insatisfação, ingratidão, equívocos, maledicências, do que queria ser e a constatação do que me tornei. Sou flor teimosa neste muro que separa humanos, nesta torre de Babel catastrófica, religiosa-social-moral convencional.
Carrego em mim o Messias que poucos conhecem,ignoro o cristianismo moderno cheio de intermediários que dizem determinar aos céus, manipulam a fé, constroem um Cristo adaptado as suas necessidades, aos seus quereres absurdos. Antes, tomei decisões erradas, cuspi no prato que comi, vomitei aos pés do que me servia banquetes pois pensava ser e estar correto. Arrependo-me de muitas coisas que disse, do que fiz e mesmo quando não fiz e deveria ter feito.
Depois de tantos anos ainda estou aqui me procurando, tateando estes tons de cinza, querendo a saída da caverna, ver e sentir o sol de uma existência sem culpa que hoje percebi haver somente no perdão divino, no sacrifício vicário de Cristo. Não, não sou o muro, sou a flor no muro que pode ser arrancada a qualquer momento,mas está lá, aqui, como um sinal de que o Supremo Criador nos ama a tal ponto de entregar seu primogênito por nós.
Sou o Tetelestai do Messias, sou a flor no muro. Sou falho, vou errar de novo, mas não há mais a vergonha de corrigir-me.