São nove as Três Marias
Sob o impacto da beleza do céu noturno da pequena Metapa, sua cidade natal, o poeta nicaraguense Rubén Darío poderia ter escrito o poema "Lo Fatal". Darío, precursor do Modernismo em língua espanhola, encara em "Lo Fatal" a angústia das angústias humanas: não saber para onde vamos nem de onde viemos, pelo menos sem o socorro de alguma crença religiosa. Rubén morreu em 1916, em plena Primeira Guerra Mundial, ao que consta, sem ter encontrado as respostas que o seu poema procurava.
O amigo e poeta Névio Alarcão, o Nevinho, é meu contemporâneo do Jornalismo da década de 1980, na Unb, Brasília. Um dia depois de seu aniversário de 64 anos me fala de cometas e demonstra interesse pelos astros. Também tem suas angústias, que o Céu não responde, embora muitas vezes consultado. Seus questionamentos são lançados desde as margens do rio são Bartolomeu, longe das luzes da capital federal. Fã das Três Marias e do "Moleque Doido", nome que dá à constelação de Órion, se surpreende quando lhe digo que são nove as Três Marias.
Confirmo, baseado no que aprendi recentemente sobre elas. Seus nomes são Mintaka, Alnilan e Alnitak, nomes árabes que significam, respectivamente, “o Cinto”, “a Pérola” e a “a Corda”. Estão a aproximadamente 1.500 anos-luz da Terra. Ou seja: quando olhamos para essas estrelas estamos olhando para o brilho que elas tinham há mais ou menos mil e quinhentos anos. E, orgulhosamente, acrescento a informação que intriga Nevinho: metade das estrelas que vemos no céu, na verdade, são duas ou mais, bem próximas umas das outras. Isso na escala universal, evidentemente. As Três Marias, por exemplo, são nove astros, que giram em dois sistemas com três e cinco estrelas e um terceiro, o da solitária Alnilam. Vivendo e aprendendo...
Porém, apesar de tantos avanços no conhecimento da Astronomia, continuamos sós no Universo. Assim, dos homens das cavernas a Ptolomeu, Tycho Brahe, Albert Einstein, Carl Sagan, Edwin Hubble, Stephen Hawking e outros cientistas, somem-se poetas, seresteiros e namorados, todos igualmente assombrados com a imensidão e a solidão inexplicáveis. Nem todos escrevem poemas ao olhar o céu, mas com certeza, tiveram alguma vez a angústia transcendental que inspirou Rubén Darío a escrever "Lo Fatal", a seguir transcrito numa das várias versões em português:
"Abençoada é a árvore, que é pouco sensível,
e mais a pedra dura, porque essa já não sente,
pois não há dor maior do que a dor de estar vivo,
nem tristeza maior do que a vida consciente.
Ser e não saber nada, e sem um rumo certo,
e o medo de ter sido e um terror futuro...
E o medo certo de estar morto amanhã,
e sofrer pela vida e pela sombra e pelo
que não sabemos e dificilmente suspeitamos,
e a carne que seduz com os seus cachos frescos,
e a tumba que espera com seus fúnebres ramos,
e sem saber para onde vamos,
ou de onde viemos!..."