Para bom entendedor...

Nos anos 1960, televisão era artigo de luxo que só viria a se popularizar na década seguinte, mais de trinta anos depois de chegar ao Brasil. A construção de uma rede de antenas nas grandes capitais, e em todo o país a partir do eixo Rio-São Paulo, contribuiu para sua expansão. Sua disseminação promoveu as telenovelas e os programas de auditório, sem falar dos seriados norte-americanos, os “enlatados”. Com o impulso dado, as transmissões dos jogos de futebol e as notícias propagaram-se país afora, alcançando variados segmentos sociais. A televisão conquistou o público brasileiro, sem desbancar o rádio, até então o meio de comunicação mais difundido entre a população.

Os jornais impressos, existentes desde o começo do século XIX, estavam restritos a grupos específicos, às associações empresariais, profissionais ou agremiações sindicais e políticas. No início do século XX, raramente as tiragens ultrapassavam cem mil exemplares, no conjunto dos veículos existentes. Importante lembrar que a imprensa esteve proibida no país até 1808.

No início, difundida como hábito urbano, a leitura de jornais e de revistas, bem como a audiência da televisão, não atingia todo o país. Muita gente deve imaginar que as propriedades rurais estavam alheias ao que acontecia no mundo. Não era essa a realidade da fazenda do meu avô. As notícias chegavam, apesar de alguma demora. O rádio tinha forte presença, era rara a residência que não tinha um radinho. Se não era elétrico, funcionava a pilha — um item básico nas compras das famílias. A ausência da eletricidade não impedia ninguém de manter o aparelho ligado, às vezes o dia inteiro.

Na casa do vaqueiro Bastiãozinho, o rádio começava sua falação antes mesmo da esposa acender o fogão para coar o café. Ainda estava escuro e os locutores despejavam notícias, músicas, recados e comentários diversos sobre tudo. Quando o dia clareava, já se sabia quem nasceu, quem morreu, se o preço do leite e da saca de milho abaixou ou aumentou, que o armazém do Zé estava com grande estoque de bebidas finas para as festas de fim de ano, entre outros assuntos. Eventualmente, os recados tinham destinatário certo: fulana mandava avisar que chegaria no dia tal, sicrano comunicava que o parente tinha sido internado no hospital ou que o sobrinho tinha se mudado para a capital. Era algo de dar inveja às redes sociais nos dias de hoje.

Outra maneira de saber as notícias era através do leiteiro. O motorista do caminhão que recolhia o leite nas fazendas percorrendo longas e precárias estradinhas de terra até chegar à cooperativa ou à empresa que recebia o produto para pasteurização e transformação em deliciosos queijos, dava notícias de tudo.

Falta de informação é problema tão preocupante quanto a dificuldade de interpretar as notícias. A apropriada compreensão da realidade permanece um gargalo para a sociedade brasileira e obstáculo à superação de históricos problemas estruturais.