MÃO À PALMATÓRIA
Maria Bonita, era assim chamada a assustadora, competitiva e incentivadora palmatória da minha época. Assustadora, devido à dureza daquele pedaço de madeira aboleado em forma de uma colher de pau, usada, principalmente, nas escolas tradicionais daquele tempo. Às vezes, muito aplaudida pelos pais que a enxergavam como uma colaboradora do futuro escolar e da conduta moral dos filhos. Assustadora e temida pelas crianças pelo medo do ardor e da dor causada pelos “bolos” aplicados nas mãos, revezando na direita, na esquerda, como corretivo de uma tarefa escolar não realizada ou por um mau comportamento na sala de aula, ou no ambiente escolar. Hoje, quando volto no tempo, vejo as longas mesas de madeira com bancos duros e sem encosto. O quadro negro ficava à frente e a mestra de longe atenta aos movimentos dos alunos. A sala era enorme, com portas nas laterais e uma abertura larga que dava acesso aos demais compartimentos do colégio. Logo cedo, juntava o meu humilde material escolar transportado num saco plástico e dirigia-me assustada para a escola, antevendo a palmatória e a severa e dedicada professora à frente da classe, para o início das atividades do dia. Muito pequena, eu sentava do lado esquerdo da mesa, no meio de duas colegas adultas, de alta estatura, para não ser notada no momento da aula. Um suplício grande, devido às vizinhas que, em cada levantada de braço, exalavam um suor desagradável que provocava em mim um tremendo mal-estar. Todo dia, a mesma tormenta mas compensava, já que eu sempre escapava da fila da tabuada e, provavelmente, de um castigo da respeitada Maria Bonita. No final da aula, era a hora das perguntas e respostas da tabuada, onde cada colega perguntava reciprocamente e algumas desforras aconteciam ali, no proveito da ocasião. A hora mais temida era quando a própria mestra conduzia a sofrida arguição. Tremia na base, assunto decorado e o risco da memória falhar pelo medo e timidez. Maria bonita incentivava a meninada a estudar e a competir entre a turma. Então, cada um aprendia ao seu modo, já que muitos não tinham sequer um reforço em casa, por falta de tempo ou pelo desconhecimento dos pais nas tarefas escolares dos filhos. E passavam para a escola toda a responsabilidade pelo aprendizado. Na minha memória, vejo o meu medo bem maior que a própria Maria Bonita e que ela era um dolorido incentivo para estudar e aprender, que mexia muito com o meu emocional de criança, mesmo não tendo provado daquele arcaico e angustiante castigo escolar.