PONTO DE INTERSECÇÃO
Quando por ali passo, quase todos os dias, eles sempre estão pelos arredores.
Aquele semáforo é como uma licença de sobrevivência.
Eles são muitos e diversos.
São jovens, às vezes crianças, de todas as idades, de todas as raças, de todos os credos, de todas as histórias, de todos os sonhos, de todos os destinos nem sempre contados.
Seus corpos expressam várias linguagens corporais, ora se intimidam, nos cumprimentam, oferecem balinhas, panos de limpeza, flores, água; ato continuo, sorriem a encenar alegrias algo milagrosas.
Porém, quase nunca noto , tão contundentemente , o que hoje senti naquele lugar ao avistar, já de longe, aquele menino no chão.
Sentado no meio fio da avenida, ali no mesmo semáforo do tempo, ele parecia desistir de si.
Cabisbaixo, com a cabeça apoiada entre os joelhos, olhava para o asfalto abaixo dos seus pés.
Parecia um ser de cera, imóvel e imutável.
Ao seu lado, pude ver uma caixinha com gomas, jujubas e chocolates, todos bem arranjados em pacotinhos, para a venda que não vinha.
O semáforo aberto não me permitiu parar para ler a cena mais de perto ou consumir algo como incentivo de vida...
Apenas nos cruzamos ali, num pequeno e tão rápido ponto de intersecção de vidas que só seguem; eu a apenas me perguntar o que se passava pelo sentimento daquele ser tão desoladamente postado no seu tempo que mal começou.
Às vezes, para desafogar meu sentimento, só me resta escrever sobre o que não sei.