Sobre a desclassificação da seleção na Copa de 2022 e o nosso futebol.

Do futebol sou um amante, mesmo que na vida eu o tenha praticado muito pouco e quando o fiz, foi na modalidade que hoje se chama de futsal. É uma amor, que que se consubstancia numa paixão, que por sua vez se manifestou, desde muito menino, numa torcida: Corinthians, o que no entanto, não me impede falar da seleção, em especial depois de nossa desclassificação do Mundial de 2022.

O Brasil perdeu pra um time inferior a ele, jogou melhor que o adversário, mas o futebol pragmático da Cróacia deu certo.

Nos comentários da primeira versão deste texto, muitos elogiaram o futebol da seleção croata. No entanto, esse time da Cróacia não tem a menor chance de ganhar a Copa. O sonho do hexa do futebol masculino, pois, foi eliminado pelo pior time, técnica e taticamente, pior até mesmo que Camarões, que enfrentamos neste mundial.

Por isso, a vitória da Croácia fala mais sobre o futebol brasileiro, do que sobre a vencedora da partida que deu acesso às semifinais. E assim passo a um questionamento sincero:

Tite seria o burro que agora estão dizendo que ele é?

Creio que não. Explico-me: É certo que Tite errou na convocação do “quase ex-jogador em atividade”, Daniel Alves, o que nos privou de opções nas laterais, ao ponto de termos improvisado um zagueiro na lateral direita, Éder Militão, posição do parça erroneamente convocado. Outros dois erros na partida de eliminação: Tite não segurou o time na retranca, o que seria necessário ser feito, depois que fizemos o gol na prorrogação (isso nos daria a oportunidade do contra-ataque e não ter sido comprometido pelo contra-ataque croata). E o erro capital: não sei por qual cargas d'água, Tite não colocou Neymar pra bater o primeiro pênalti, o melhor jogador do elenco.

Mesmo assim, Tite não podia fazer milagres. A mercantilização do futebol, apesar de enriquecer uma nata extremamente pequena de jogadores, fez com que, há alguns anos, estarmos diante de gerações de jogadores inferiores tecnicamente aos jogadores das melhores seleções do mundo. Nosso time atual tinha dois craques, o já mencionado Neymar e Cassimiro, além de algumas promessas como o Vinícius Jr. e outros bons jogadores, mas o Brasil não tem mais o melhor futebol. Isso é fruto do desenvolvimento desigual e combinado provocado pela mencionada mercantização, um processo que resulta na concentração do esporte nas ligas europeias. E os técnicos da CBF, como parte deste sistema, fazem suas convocações priorizando sempre os boleiros (jogadores) que atuam nos clubes europeus.

É a morte do futebol arte, característica das antigas seleções do Brasil? Sinceramente não sei. No entanto, caso o futebol brasileiro continue no caminho que vem trilhando, onde tipos como Daniel Alves , isto é, “quase ex-jogadores em atividade”, sejam os craques e esperança dos times nos campeonatos como o Brasileirão, a Copa do Brasil, a Sul-americana e a Libertadores, ao mesmo tempo em que estes times pouco investem nas categorias de base e vendem para o exterior, o quanto antes, todos os que minimamente se destacam, até mesmo suas jovens promessas, como acaba de fazer o Palmeiras, vendendo o garoto Endrick, de apenas 16 anos, ao Real Madrid (ela vai se transferir para Espanha quando completar 18, mas vendido desde já).

Assim, enquanto a mercantilização e a europerização do futebol enriquece uns poucos e torna o futebol do velho continente quase imbatível, cai o nível do latino americano, em especial do futebol brasileiro, inclusive, o da minha Eterna Paixão, Corinthians

Texto de Adriano Espíndola, em 10.12.2022, um dia depois da derrota para a Croácia na Copa do Mundo de 2022.