De férias, a coçar o ônfalo

 

Acadêmico de licenciatura em Letras, enfim, de férias da universidade! Para ser exato, do Centro Universitário Senac de Santo Amaro, São Paulo, capital. Daqui, de Marabá, Estado do Pará. A tecnologia o possibilita e explica. Aulas agora, só no próximo ano. Com efeito, desobrigado das leituras acadêmicas diárias (que são muitas), dos vídeos, das aulas on-line sincrônicas (os portugueses dizem síncronas) – para quem ainda não sabe, das webconferências, também chamadas de redeconferências –, poderei ler outros gêneros que não os textos didático-acadêmicos. Claro, não é que estes sejam desagradáveis, é que naturalmente vem a vontade de ler outros tipos de texto, principalmente literatura.

 

Abro parênteses, para, como gosto de fazer, dar explicações. Primeiro, não olvido que Napoleão Mendes de Almeida censurava bravamente a construção “outro que não”. Ouso, porém, aqui discordar do meu mestre, a quem devotarei sempre um indizível respeito. Para mim, data venia, a construção é vernácula. Segundo, é possível assistir às aulas de forma assincrônica, pois todas elas ficam gravadas. Eu, contudo, prefiro assistir sincronicamente, quer dizer, simultaneamente à ministração, pois gosto de interagir, indagando, falando, escrevendo, dizendo o que penso disso ou daquilo.

 

Ainda dentro dos parênteses, lembro aos desavisados de plantão que instituição de ensino superior, designada pela sigla IES, é o gênero, ao passo que, em ordem decrescente, universidade, centro universitário e faculdade são espécies. Já presenciei gentinha bem tola (riquinha, é bem verdade, mas tolinha até demais) dizer, à guisa de correção de alguém que falara em universidade: “É faculdade. Não?” A pessoinha não sabia, como muitos não sabem, que universidade é maior e tem mais autonomia do que centro universitário, o qual, por sua vez, é maior e tem mais autonomia do que faculdade.

 

Pois bem, de férias, vou ler o que me der na telha. Que maravilha! Ontem mesmo, 9 de dezembro de 2022, li várias crônicas do livro Bom dia para nascer, de Otto Lara Resende. Eu simplesmente tenho paixão pelo estilo de Otto Lara Resende. Dentre todos os cronistas, tornou-se, há muito, o meu preferido. Posso ainda mudar de ideia, é claro, mas hoje – desde há muito, aliás –, se tivesse de indicar um livro, apenas um, a qualquer pessoa, não tenho dúvida de que pensaria logo em indicar um dos meus, mas, sem titubear, indicaria Bom dia para nascer, de Otto Lara Resende.

 

Vaidoso que seja, não posso ceder à ingenuidade de querer que tudo gire em torno do meu ônfalo, e menos ainda a de pensar isso. Falo de ônfalo, contudo, tão somente para homenagear Otto Lara Resende, pois ele escreveu uma bela crônica para o jornal Folha de S. Paulo, edição de 15 de janeiro de 1992, cujo titulo é “Capitu e o meu ônfalo”. Ônfalo, para quem não sabe, é uma palavra erudita, vinda diretamente do grego Ὀμφαλός, que significa umbigo. Depois, também para homenageá-lo, falarei, não necessariamente nesta ordem, de lisível, escalafobético e eutrapelia (aliás, eutrapelia também vem diretamente do grego, εὐτραπελία). Otto Lara Resende brincava com as palavras.