A Carne Podre Produzida Pelo Livre Mercado
Frigoríficos ligados as grandes indústrias do ramo alimentício vendem carne vencida e recheada de papelão que forra o estomago de milhões de brasileiros. Quando pesquisado afundo essa irregularidade de saúde pública, o alimento indecoroso espalha toda podridão aética possível sobre nossos governantes – engrenou-se um lucrativo esquema em que as autoridades sanitárias e ministeriais do governo federal permitem que partes bovinas em decomposição façam presença nos pratos vendidos nos restaurantes. A culpa disso é também do livre mercado, foi ele que ofereceu carne podre para você comer.
A putrefação disso tudo é decorrente da espúria crença de que a livre concorrência entre empresas suprirá todas as necessidades da população. Ledo engano, pois para além do conto de fadas gerado pelas mãos invisíveis e inexatas de Adam Smith, tal perspectiva gerou um conglomerado econômico tão poderoso, tão hegemônico, que a indústria produtora de aves e bovinos teve a desumana ação de lucrar exageradamente em detrimento da saúde alheia.
Visando maximizar a utilização de seus fatores produtivos, para obter uma produção com custos cada vez mais baixos, permitiam que as carnes mesmo após os seus vencimentos de validade continuassem sendo distribuídas para o comércio. Com isso economizava os gastos com transporte e a reposição de novos produtos no mercado. O sacrossanto lucro levado às últimas consequências.
É coerente falar sobre a livre concorrência quando apenas dez empresas dominam mais da metade das vendas feitas nos supermercados? A aparente liberdade de escolha por parte do consumidor é refém dos oligopólios. Ao invés da midiática mensagem de que os produtos são fabricados com qualidade, o trabalhador paga por uma carne cara (sem muita escolha para isso) e sem saber que a mesma pode gerar vários desconfortos gástricos.
O livre mercado, esse endeusado mito entre os ruminantes que proliferam asneiras políticas nos espaços públicos, difundi aos quatro ventos a ideia de que o Estado está inchado demais. Afirmam que nossos aparelhos estatais impõem regras excessivas, as quais impedem o desenvolvimento econômico do país. No entanto os seus propagadores fingem esquecer que o escândalo das carnes e o desastre ecológico em Mariana-MG são frutos do relaxamento da fiscalização governamental.
É o Estado mínimo instalado por essas paragens desde os anos de 1990 que fez com que os aparelhos fiscalizatórios fossem afrouxados, que as autoridades públicas perdessem a capacidade de punir os delitos da iniciativa privada. Qual é o resultado disso? As empresas passam por cima dos direitos básicos e das responsabilidades do Leviatã e fazem o que bem entendem em detrimento do bem-estar dos consumidores.
Assim temos operadoras telefônicas que oferecem péssimos serviços (são campeãs de reclamações no Instituto de Defesa do Consumidor), indústrias têxteis mantendo trabalho escravo, áreas indígenas ilegalmente tomadas pelo agronegócio, empresas pagando baixas multas diante de um imenso desastre ambiental. Já pensou se a concepção hayekiana de diminuir ainda mais o aparelho estatal for levada adiante?
Na verdade, diante de sua situação social, dos milhões de pessoas desatendidas em necessidades básicas, o Brasil precisa ampliar os serviços públicos para realmente melhorar a qualidade de vida a todos. É muito fácil o morador das grandes cidades, pertencente à classe média, olhar para o próprio umbigo e repetir o mantra sobre privatizações de serviços essenciais. Não é ele que vive isolado como centenas de ribeirinhos no norte do país, que na falta de escolas e hospitais públicos em suas comunidades, precisam navegar horas nos afluentes do rio Amazonas para conseguirem resolver seus problemas.
O fato é que grande parte dos brasileiros ao reclamarem do azedume das carnes vendidas nos frigoríficos, esquecem que os próprios também são indiretamente responsáveis por isso. A verborragia neoliberal vomitada pelos paneleiros nas ruas legitimou o engrandecimento da iniciativa privada sobre nossos órgãos governamentais. A carne estragada foi produzida pela corrupção das empresas que perverteram a ação de nossos fiscalizadores. É a fétida crença de que o livre mercado pode resolver todos os problemas humanos – situação que potencializou a cobiça insana dos industriais na área alimentícia e fez com que você comesse pútridas picanhas e pedaços de frango com papelão.
18.03.2017