Política ou futebol?
O grupo em frente ao batalhão do Exército pede intervenção federal no governo... que ainda nem tomou posse. Agita bandeiras do Brasil, saúda os carros que passam, permanece acampado em frente ao quartel. Renega, porém, veementemente a Copa: "Futilidades pra distrair o povo, hipocrisia, tomara que percam logo".
No outro lado da cidade, grupo diferente espera o jogo e comemora as vitórias brasileiras. Aglomera-se na rua dos bares e entroniza os novos ídolos pintados em suas camisetas: Richarlisson, Vini Jr., Raphinha e confirma Neymar Jr. como líder. Canta pagode, samba e outros ritmos. Não dá pra saber se esse grupo tem ou não tem tendência política. Externamente, porém, não há muita diferença. Agitam as mesmas bandeiras do Brasil, como os acampados em frente ao batalhão. Esses outros, desacampados, vibram pela sequência de vitórias na Copa do Mundo.
No passado, a esquerda criticava o futebol: "É ópio do povo". Hoje, pressionada pela torcida contra o escrete canarinho, está mais para drogar-se, sim, com as vitórias na Copa do que que maldizer Tite e seus comandados.
Em 1970, a ditadura, também assumidamente de direita, beatificava o futebol. Tinha a música "Pra Frente Brasil, salve a Seleção", o presidente ia aos estádios, dava pitaco, demitiu João Saldanha acusado de ser um comunista e escalou Dario de centro-avante, quando Zagallo assumiu. Hoje, as vitórias da seleção, segundo os "Patriotas", movimento também de direita, demoniza o futebol: são futilidades pra distrair o povo.
Durma-se com uns barulhos desses. Afinal de contas, é futebol ou política? Política ou futebol?