Estamos indo embora, aos poucos!
Estamos indo embora, aos poucos!
“A morte não é o oposto da vida, mas parte dela”
Haruki Murakami
Aos poucos, como é natural, contemplamos as partidas daqueles que enriqueceram as nossas Almas, as nossas épocas de infância e juventude e, também, compuseram o universo particular dos nossos mundos de afeições.
Aos poucos, nos deixam aqueles que fizeram do trabalho e da família os motivos de suas vidas e nos revelaram, através do sacrifício de suas atitudes e comportamentos exemplares, a importância do caráter, da honestidade e da sinceridade, na preservação da Verdade e do Amor, sob a rege da Justiça e, também, do Perdão.
Aos poucos, também, se vão aqueles que conosco compartilharam suas crenças, esperança e nos ensinaram a importância da religião, da tolerância e da dedicação ao outro, no sentido mais puro da amizade, do respeito e da devoção a que devemos ao ser humano.
Aos poucos, partem antes do combinado aqueles que nos acolheram na infância, que nos ensinaram as primeiras lições e nos pegaram pelas mãos, nos indicando caminhos seguros da prática das virtudes e das simples realizações, porém sublimes, já que o respeito e a educação sempre decoravam todas as suas ações.
Aos poucos, estão indo embora, além dos parentes, ou simples conhecidos e os queridos amigos, com os quais dividimos as primeiras lições, trocamos gibis, jogamos bafo ou peladas, com bolas de pano ou de borracha, nadamos nos ribeirões, brincamos de carrinhos ou caminhamos nas praças e rimos juntos quase de nada, sob o frio das madrugadas, após os bailes de formaturas ou das simples aventuras de caminharmos nas praças nos finais de semanas, de nossas juventudes, no anseio de conquistar as primeiras namoradas.
Aos poucos - quase que compassadamente - se vão, também, aqueles que enriqueceram nossas imaginações com suas artes de sons, de movimentos, de cores e de imagens que ilustraram nosso universo particular, nos dando esperanças e até mesmo inspiração para construirmos nossas profissões ou, simplesmente, desenvolvermos, também, nossas artes em especial. Aqueles que nos fizeram - ainda que em nossa intimidade pessoal – eternos e incansáveis admiradores de suas e belas expressões.
Aos poucos, silenciosamente, mas intensamente, verdadeira e dolorosamente, vemos partir aqueles que sempre estiveram junto de nós, na busca da compreensão da Vida ou nos investimentos de nossas mais simples realizações, sempre dividindo esperanças, na firme crença de, um dia, nós faríamos melhores.
Eu nasci no último ano da década de 40, em uma então pequena cidade do interior, e tive o privilégio de viver minha infância e adolescência nesta mesma cidade, junto a pessoas extraordinárias, que muito contribuíram para a minha formação. Por estas razões, sou imensamente grato e me sinto honrado em ter compartilhado parte da minha existência com meus antigos familiares que, por suas vezes, também tiveram origens humildes no interior e com formação religiosa tradicional.
Neste ano que ora se encerra, alguns destes queridos amigos e mesmo alguns simples conhecidos - mas, não menos importantes - como é natural, geralmente pelas idades avançadas, nos deixaram. Assim, ao refletir sobre a importância destas pessoas não só na minha vida, mas, também, na de vários outros amigos dos velhos tempos, compus o presente texto.