Esse dia, já foi meu

O sol desponta na manhã de segunda, abro os olhos enquanto o alarme toca insistentemente ao meu lado, minhas mãos vão ao seu encontro sem que eu perceba, é mais um dia comum.

Minha manhã é iniciada com silêncio e um vento frio. Um ritmo devagar embala os meus passos.

Cada detalhe é tão comum que passa desapercebido. Não percebo como o panetone está fofinho hoje, e nem sinto como o café não é fresco, mas ainda está um pouco quente.

Meu dia começou.

O relógio acelera e já estou saindo, na mesma rua. No mesmo ponto. O mesmo ônibus. Na mesma esquina, as mesmas pessoas me veem passar, e eu vejo elas ficarem para trás.

Encaro a paisagem da janela, o sol está no alto, meu perfume está fresco, estou tranquila.

Entre uma aula e outra sinto dores nas costas, as cadeiras são horríveis. Mas estou feliz por estar aqui, lutei muito para conseguir, a maioria das guerras contra mim mesma.

Caminho de volta, após sorrisos expostos e reclamações compartilhadas, piadas contadas e tristezas guardadas. Mal passou e já sinto falta. Mal sou jovem e sinto que já perdi muita coisa.

De volta ao ponto, outra paisagem conhecida, as árvores que eu vejo todo dia, a imaginação corre solta enquanto espero.

Enquanto espero...

A vida acontece quando estou esperando. O casal na minha frente caminha apaixonado, os amigos conversam e gargalham alto, carros passam levando gente para os seus destinos, para os seus lares, para onde eles têm que ir.

E eu também vou.

De volta ao bairro, reconheço a maioria das lojinhas. Eu realmente queria saber desenhar, desenharia cada detalhe dessas ruas para nunca esquecer, desenharia esse céu tão bonito que é uma surpresa boa todos os dias. Desenharia essa calçada, esse prédio, essa casa.

Eu deveria pelo menos ter uma câmera fotográfica para registrar isso. Tá passando. A vida tá passando na minha frente. Todos os dias diferentes, mas tão iguais. Me pergunto quando vai mudar de novo. Onde eu estarei daqui a vários anos? Ainda nesse bairro? Ainda andando por essas calçadas? Ainda vou lembrar desse cansaço do início da minha juventude? Ou vou desdenhar e pensar "ah! eu de fato não sabia o que era estar cansada!"?

Eu não sei.

Não tenho essas respostas. Mas confesso que me pergunto isso quase todos os dias. Por isso escrevo. Escrevo porque existo e, porque não quero esquecer. Escrevo na esperança de expor nas linhas o que o meu coração sente quando eu atravesso aquela mesma rua todos os dias. Escrevo porque não sei desenhar. E, porque não tenho uma câmera fotográfica.

Eu escrevo porque amo. Eu amo a vida. Eu amo minha cidade. Eu amo estudar. Eu amo caminhar até me esgotar as forças, mas amanhã vou de novo. Entenda, eu não amo exatamente tudo isso, mas, porque amo viver, todas essas coisas valem a pena.

Quero escrever agora para que eu lembre no dia ruim. Viver tudo isso vale a pena. Algum dia você vai amar de novo.

Cheguei em casa

Sinara Beserra
Enviado por Sinara Beserra em 06/12/2022
Reeditado em 06/12/2022
Código do texto: T7666447
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