“FAMÍLIA ENFERMA” — LASAR SEGALL (1920)

“FAMÍLIA ENFERMA” — LASAR SEGALL (1920)

SER OU NÃO, eis a questão: ser ou não conhecedor de suas profundidades psicológicas a caminho dos astros ou a caminho da Fossa das Marianas. Mãezona costumava dizer que “o sangue puxa mais do que cem bois”. Esse era um de seus ditos favoritos. Queira você ou não, seu ser está presente nas duas extremidades. No meio dela está a cultura diária do entretenimento, da educação para boi dormir, da corrupção institucional, das bilhões de bocas em todos os lugares do planeta, inconscientemente falando banalidades: o trivial variado de insignificâncias. É o que me sugere o quadro expressionista “Família Enferma”, de Lasar Segall.

VOCÊ, EU nossos vizinhos, todos estamos sob camadas PSI-"geológicas" de entulhos ancestrais que não nos ensinaram a limpar. Não ensinaram, nem ensinam, porque não sabem. Porque as autoridades do planeta Terra nascem para ser o que são: autômatos bio orgânicos em busca de se dá bem na vida. De ganhar o máximo possível para garantir o narcisismo de simular ser melhor uns que os outros. Nenhum deles, nenhum de nós, sabe, quer ou pode modificar-se. Eu, sabedor dessa verdade existencial elementar, tentei. Quem sabe até mesmo logrei conseguir. Quantos de nós tentam e não conseguem. A metamorfose deles, familiar, estava no sobreviver inteiros às explosões atômicas da IIIª Guerra Mundial: o conflito diário de todos contra todos, todo tempo.

A ARTE de Segall parece-me ser uma denúncia manifesta do sofrimento de povo judeu nos campos de concentração da Alemanha nazista. Ele esteve, por duas vezes, na condição de refugiado de guerra. A onda da arte modernista estava em perfeita harmonia estética com suas emoções e comoções, as mais íntimas. Conhecer pela sensibilidade. A sensibilidade enquanto território e dimensão que amplia a consciência, desafia o pensamento a ir mais longe na compreensão das dores do mundo. E desafia a razão a se engajar na mudança desse mundo Cão.

A LINGUAGEM do modernismo está presente intensamente em suas obras de Arte. Nelas, ele espelhou a dramaticidade trágica da realidade latino-americana. O expressionismo, meu modo de vê-lo, é um desafio radical ao espectador na arte de visualizar as personagens do mundo: suas angústias, tristezas, decepções. As relações do pessoal com o familiar, este, com o social, este, com as associações éticas com a política local, regional, nacional, continental e mundanizada. Vivemos num mundo expressionista, sim. Será que nos damos conta dessa realidade elementar???

POSSUÍMOS OS recursos de conhecimento existencial, histórico, estético. A sensibilidade PSI, exigência da identidade de quem deseja e consegue saber-se individualmente responsável por esse Mondo Canibal??? Somos racionais o suficiente para estarmos sempre atentos e prontos a conhecer cada nova situação gnosiológica que a realidade se nos apresenta a todo momento??? Dialogamos realmente com os outros sujeitos de nossa realidade simplória e medíocre??? Se dialogamos, o que aprendemos com diálogos que se definem enquanto medíocres e simplórios??? Cada sujeito cognoscente é parte integrante da integralidade que nos fundamenta. Se não temos saber suficiente para nos comunicar com outros saberes equivalentes, de que adianta trocarmos impressões e conversas de coquetel??? Somos apenas narcisos em reuniões, recepções e cerimoniais de transição de poder político??? Pertencemos apenas à intelectualidade de fila de cinema e coquetéis???

TEMOS A sobriedade sugerida na presença dos tons sóbrios da pintura??? Nos identificamos com as personagens da “Família Enferma”??? Somos capazes da empatia sugerida pela melancolia, a mágoa, o desgosto e a aflição presentes nas personagens do quadro??? Temos a equivalência daquelas vidas secas em nós, mas talvez ignoremos isso. O desalento, desconforto, indignação, depressão, desesperança e soturnidade??? Quem se identifica com personagens do Bigbrother, do Vai Que Cola, das novelas tipo Verdades Secretas, do deboche supostamente inteligente do “papo de segunda”, possui condições de se identificar com a condição mais depressiva do mundo???

SUAS FACES podem realmente conseguir identidade com a expressividade dos símbolos da sensibilidade, os presentes e os ausentes no quadro “Família Enferma??? Eu, você, nossos vizinhos vivemos mergulhados num oceano de mediocridades políticas, “artísticas”, Tv visivas, esportivas, lendo revistas e jornais, participando, direta ou indiretamente do noticiário da noite, dos shows nacionais e internacionais das bandas do pop, dos pagamentos, agendas, registros, salários... Temos condições de visualizar, conforme as sugestões, estatutos e códigos estéticas, a realidade que está mais dentro do que fora de cada um de nós???

TENHA A impressão que somos demasiadamente narcísicos para nos permitir ver no espelho no lado de fora, as realidades que se passam e trespassam nossas ações e reações ao que vemos nas telas, nos palcos, na Tv, e ouvimos no rádio: a geometria dos sons e formas, nem sabemos o quanto ela nos envolve e condiciona nossa trajetória e experiência cotidianas de vida e da falta dela. Principalmente.

SERÁ QUE conseguiremos tempo para a neural reformatação de nossas ideias, pensamentos, ações provenientes de nossas mentes, cada uma com suas próprias lógicas, e diferentes categorias de percepção da própria realidade. E da realidade alheia??? Temos condições de habitar outro planeta que não seja o planeta primata, lêmure??? Temos condições de sair da prisão das longas noites de grande apreensão e sentimentos de medo e terror que nos fazia recolhermo-nos nos ermos das cavernas paleolíticas??? Temos humildade de saber que somos dinossauros em franca lide de extinção da espécie???

(P.S: ESTE TEXTO PERTENCE AO ROMANCE MULTIESTILOS "ONDE A LUZ DA LUA VEM BRINCAR").

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 05/12/2022
Reeditado em 05/12/2022
Código do texto: T7664778
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