E ela se foi... Escrita em: 19/06/2011
Ela se foi... E até agora eu não me dei conta do que isso pode significar. Às vezes me sinto confortável por não ter noção da proporção da dor e vazio que representa. Outras, sinto como se não existe felicidade completa sem sua existência entre nós. Ela se foi... E é tão difícil referir-se a ela no passado. Ela era tão viva! Tão intensa! É tão nítida sua lembrança em nossa memória. Porém, ela se foi...
A indignação ronda todos os meus bons pensamentos e assumo que até mesmo a revolta inicial fez parte dos meus sentimentos. Mas creio que hoje em dia já tento encarar de um modo diferente. Modo esse que sei que ela gostaria que enxergasse e que toda vida tentou nos mostrar. Hoje pelo menos consigo escrever, uma forma de registrar e não perder seus detalhes que eram tão presentes nela.
Como é difícil lidar com a morte, lembrando-se de toda sua vivacidade! Ela tinha tanta vontade de viver, presenciar nossos objetivos sendo concretizados, tantos planos, tantos sonhos! Mas ela se foi... Levando com ela o chão de toda a família, levando o Natal, o dia das mães e todos os momentos que fomos tão felizes e que não irão se repetir com a mesma suavidade de antes. Ela se foi, sem nos dar tempo de despedidas explicitas, sem a chance de dizer mesmo que já sabia o quanto ela foi amada incondicionalmente. Pois passamos a vida sem dizer o essencial, por achar que todos os dias o sol acordará, e nos sentimos desamparados quanto ele não acorda. E nessa manhã o sol resolveu não acordar. Foi uma manhã cinzenta e amarga que nos deixou a condição de nos contentar com as lembranças que não foram poucas e uma saudade que parece corroer nossas almas ao nos martirizar da sua não existência.
Não há como não citar como gostava de estar com ela! Simples... Mas desde sempre era uma expectativa em vê-la. Lembro-me bem por volta dos meus seis anos quando ainda estava no prezinho, ela aparecia na escola do nada para me buscar. Puxa! Era mágico. E como eu curtia voltar com seus dedos entrelaçados aos meus contando como foi meu dia na aula. Como eram gostosas nossas infinitas conversas sempre acompanhadas de uma história inacreditável contado por ela. E como ríamos juntas! Risada ímpar... Risada essa que me fazia rir sem achar graça do que de fato estava rindo, pois era prazeroso vê-la rir. Mas ela se foi... E ainda consigo escutar sua voz perdida no meio da multidão e quando a procuro, não a encontro.
Sinto falta de abraçá-la, de deitar-se em seu colo acarinhando meus cabelos, de seus ataques de nervos e histerias, de seu tom paciente, de vê-la arrumar para sair, sempre tão vaidosa! Sinto saudades do orgulho que tinha de sua família e da forma que demonstrava isso. Sinto saudade de chegar a sua casa e pedir a benção, da sua preocupação com o almoço, de dormir abraçada com ela. Saudades da maneira que me apresentava para suas amigas, sempre com a boca cheia e de como eu me sentia!
A casa dela, que será eternamente sua casa, ficou tão triste sem sua presença. É como uma peça de teatro sem o protagonista, pois o cenário está lá do jeitinho que ela deixou, e o público que é nossa família sempre aguarda ansiosamente sua entrada triunfal. Claro... A vida continua... Continua para quem apenas teve o trabalho de dizer “ Meus pêsames”, por que para quem lida todos os dias com a sua perda, a vida continua sem brilho ou muitas vezes sem vontade de ser vivida.
Ela se foi... Rápido e majestoso como um cometa. Deixando uma linda história que serve de exemplo e iniciativa para mudarmos gerações. Espero que possamos corresponder essa expectativa que ela tinha sobre nós como uma forma de agradecimento, por ela ter sido uma mãe para seus filhos, netos, genros e noras. É... Ela se foi... Mas está mais do que nunca forte em nossos corações. Onde quer que ela esteja, sei que está daquele mesmo jeitinho que era só dela. Sentadinha com lágrimas nos olhos nos protegendo e se orgulhando da família que formou.