INTERAÇÕES E MONÓLOGOS VIRTUAIS
Vivemos em uma época de muitas interações digitais simultâneas e céleres, em que, muitas vezes, falta um diálogo realmente eficaz. Existe uma confusa tendência coletiva a tirar conclusões rápidas e enviesadas sobre várias pessoas e fatos, entre monólogos virtuais, sem efetivamente escutarmos aquilo que o outro está querendo comunicar e sem compreendermos vários detalhes de cada situação.
Essa tendência costuma induzir muitos prejulgamentos imediatos, parciais e equivocados sobre pessoas e situações que nem sequer conhecemos, pelo menos a fundo. Os recursos tecnológicos são muito importantes, úteis e dinâmicos, mas deve-se saber usá-los com cuidado, para, pelo menos, tentarmos uma comunicação efetiva, além dos monológos virtuais, ensejando conclusões precipitadas sobre pessoas e assuntos que nem sequer compreendemos com um mínimo de profundidade.
Vemos com certa frequência discussões em redes sociais, grupos de whatsapp ou em posts de vários sites na internet, gerando monólogos rasos e agressões virtuais de pessoas que nem sequer compreendem o que está sendo dito, distorcendo informações ou gerando fofocas e "fake news".
Hoje em dia, ademais, muitos indivíduos têm hábito de tirar fotos a todo momento e filmar outras pessoas e situações complicadas com os celulares, em alguns contextos, para tentar prejudicá-las, obterem audiência ou lucrarem em cima dessas imagens. Entretanto, na maioria dos contextos, não sabemos o que ocorreu antes ou depois da situação filmada, podendo ensejar uma série de visões parciais, sobretudo quando não temos acesso à completa dinâmica dos acontecimentos.
Por exemplo, um indivíduo agride outro em uma briga de trânsito ou em um evento qualquer, mas depois só filma a parte em que o outro revidou à agressão inicial e coloca indevidamente em redes sociais, sem explicar todo o contexto da história, desde o início. Cada caso é um caso, logicamente, sendo que muitas filmagens ou fotos nem deveriam ter vazado ou circulado, ensejando delitos virtuais ou de outras espécies.
Em outros casos, passam a circular na rede filmagens parciais de momentos específicos, com ou sem edição, gerando muitas confusões em vários âmbitos das interações humanas, principalmente em contextos de problemas individuais ou coletivos, sociais, políticos, jurídicos, familiares, econômicos, entre outros.
Costuma-se ainda desrespeitar uma série de direitos de imagem e de privacidade dos indivíduos, que muitas vezes nem sequer concordaram em serem filmados ou fotografados, mas já são "fuzilados" com filmagens unilaterais de celulares, seguidas de mensagens precipitadas de várias pessoas desconhecidas ou famosas, em diversas situações.
O meio digital, portanto, favorece a rapidez em recursos instantâneos, mas precisa ser usado com cuidado, como instrumento de comunicação e não de conflitos distorcidos por opiniões parciais e prejulgamentos imediatos e precipitados, quando, muitas vezes, a pressa é injusta e inverídica. Esse mundo frenético também tende a disseminar inúmeros preconceitos e imagens cada vez mais céleres, escorrendo por infinitas mãos e telas em labirintos de informações, sem serem, muitas vezes, reais ou verossímeis, além de suposições e cliques de tantos dedos, dados, distorções e dúvidas, que jamais saberemos muitos fatos por completo, entre tantas imagens e hipóteses flutuantes.
É preciso um meio termo e cuidado no uso desses equipamentos, pois tudo tem seus prós e contras. A questão não é apenas o celular, o computador, a internet, o tablet ou qualquer recurso tecnológico em si, mas o uso que se faz deles. Tais aparelhos facilitam nossas tarefas, atividades de trabalho, de estudo ou de lazer, como o próprio meio que disponibilizamos aqui para escrevermos e interagirmos. Porém, nós nem sempre acertamos a dose e o modo dessa utilização tecnológica.
Os mesmos aparelhos que nos auxiliam também costumam nos hipnotizar e rastrear também, virando meios de muitas interações rasas e consumistas, entre aparências superficiais, propagandas sem fim, desavenças e monólogos virtuais incessantes, exacerbando a solidão digital entre likes sempre insaciáveis e corações cansados diante de tantas notificações.
Por esses motivos, é necessário discernimento e cautela, utilizando a tecnologia com bom senso, sem criar atritos desnecessários, distorcidos e tumultuados por julgamentos parciais sobre situações, pessoas e acontecimentos que não conhecemos, com muitos detalhes e possibilidades, entre inúmeras telas sem fim de aparelhos aleatórios, como se estivéssemos em um daqueles episódios instigantes da série Black Mirror.
Os recursos tecnológicos, pelo menos em tese, foram feitos para servir às pessoas e ao mundo, ao menos em uma visão um pouco otimista. Mas, de uma perspectiva mais ampla, vê-se que está ocorrendo ironicamente o inverso: muitas pessoas estão sendo hipnotizadas, rastreadas e sugadas pelos aparelhos e meios digitais, entre monólogos rasos e aparências superficiais, sendo necessário saber dosar o uso desses equipamentos, com discernimento e cautela, mas quem saberá na prática?
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