O MEU PÉ DE SABUGUEIRO

Para quem não conhece ou nunca ouviu falar, permita-me apresentar o meu pé de Sabugueiro. Estou falando de uma espécie de arbusto, cuja muda da planta apareceu lá em casa, ainda na minha tenra infância, a qual meu pai plantou em nosso quintal, quando eu os meus dois irmãos contraímos o danado do sarampo. Naquele inicio da década de sessenta era possível sofrer de tal doença.

Para amenizar o domínio da moléstia, minha mãe ouviu conversas e seguiu à risca a sabedoria do povo, que de médico e de louco quase todo mundo padece. Mas falemos da maravilhosa planta, o Sabugueiro, que tem propriedades medicinais e sua procedência é europeia. Tudo se aproveita, as cascas, as folhas, as flores, os frutos, que em resumo faz sucesso no combate da gripe, das constipações e de outros males, que aqui não vou prescrever, mesmo porque não estou gabaritado para tal e não desejo me comprometer.

Reitero, falemos do arbusto, o Sabugueiro (Sambus nigra) que tem um porte considerável, se bem cuidado pode atingir com louvor aproximadamente cinco metros de altura. Essa arvorezinha danada foi minha companheira no paralelo, enquanto eu crescia a olhos vistos, criamos um forte elo. Durante anos fora apenas uma arvorezinha fincada num canto do quintal, que de certa forma viera para curar um mal e, como tal, tinha lá as minhas considerações, daí eu a tratar com muito esmero.

À época, pelo que me lembro, devia ter por volta de cinco a seis anos de idade, lá pelos anos de 1962 ou de 1963. O menino então, enquanto aprendia as primeiras letras, tinha um incansável companheiro, o Sabugueiro, sempre no mesmo lugar para com ele brincar. Na rotina de brincadeiras, aquele amigo podia ser tudo o que permitia a minha imaginação, em seus galhos cavalgar, navegar, e até voar. Com o Sabugueiro atravessei campos, conquistei oceanos, visitei planetas, conheci terras distantes. Nas tardes ensolaradas as sombras tinham as suas funções.

Um pouco mais crescido, já no antigo curso ginasial, eis que tenho em mãos uma obra literária, um clássico, que me surpreendeu, “O meu pé de laranja lima”, a história do menino Zezé que bem poderia ser a minha, parece até que é. Não era apenas um livro que eu lia, uma obra literária, na verdade era um espelho do que foram minhas aventuras um dia.

Bem sei porque estou narrando isso, só agora, passados tantos anos desde que a aquela mudinha fora plantada, germinou, cresceu e foi minha companhia durante parte da minha infância. Um sentimento me despertou, ainda ontem tive que voltar àquela casa para dela me despedir, já que não pertence mais à nossa família.

Naquele quintal só as lembranças ficaram, o que fora uma casa só escombros sobraram, onde vivera o meu Sabugueiro é agora somente um abandonado canteiro.

No meu intimo é como se um amigo partisse, o meu pé de Sabugueiro morreu. Restou de verdade, uma imensa saudade de tudo o que aconteceu comigo e com o amigo meu.

Samuel De Leonardo (Tute)
Enviado por Samuel De Leonardo (Tute) em 01/12/2022
Reeditado em 01/12/2022
Código do texto: T7662324
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