A Cortina do Moralismo Que Manipula a Política Entre os Batedores de Panela
Dizem por aí que há problemas muitos sérios a serem resolvidos nesse país: houve incitação à pedofilia na exposição artística de um museu? Existem professores corrompendo a moral cristã dos nossos filhos? Como sair rapidamente de uma demonstração pública de beijos gays? Por que aceitamos que uma filósofa gringa corrompa a inocência sexual de nossas crianças?
Enquanto essa cortina de moralismo fecha os olhos da hipócrita classe média brasileira para os reais problemas, homens esfomeados pedem esmolas nos aeroportos. Muitas crianças trabalham de forma escrava em cidades de Roraima (e já com um projeto estatal para que se relaxe as regras sobre esse tipo de abominação social). Enquanto os batedores de panela esbravejam seu combate seletivo a corrupção em redes sociais, o pré-sal (que vale bilhões de dólares e poderia ser revestido em serviços públicos que melhorem a vida dos mais humildes) é vendido a preço de banana para render capital as multinacionais norte americanas e europeias. Quanto nacionalismo de fachada e doentio é vomitado por esses paneleiros – mera massa de manobra das elites.
E nada disso é combustível para reascender a insatisfação dos camisas de CBF contra a podridão social que se estabelece a cada dia. Agora vivem calados diante da descarada ação do presidente Temer ao comprar todo o parlamento e assim ser absolvido de diversos casos de corrupção amplamente demonstrados em conversas e gravações. A reforma trabalhista já começa a precarizar os direitos dos trabalhadores, o risco de dilacerar as aposentadorias é eminente. E até a possibilidade de não ocorrerem eleições no ano que vem é algo articulado com cuidado por nossos sacripantas parlamentares.
Tantos problemas políticos a serem superados, mas também tanta seletividade e tapumes nos olhos das “pessoas de bem”. O real problema desse país não é uma questão moral - isso são valores subjetivos, pessoais, que cada um deve tratar nos seus lares de ou com o seu pastor nas igrejas. Todos esses moralismos são falsos dilemas que alimentam apenas os tolos, os analfabetos políticos recriminados por Brecht.
Tapumes que distanciam a opinião pública do nosso real e secular problema: a desigualdade social, a fome de muitos coitados que diariamente são tratados como sub-humanos. O ódio elitista e da classe média é evidente ao não aceitar a conquista de alguns direitos e a ascensão social oferecida aos mais humildes nos últimos anos. Cólera social que foi capaz de interromper a vida democrática do país, rasgar a Carta Magna, colocar em incerteza o futuro de milhões de pobres cidadãos em nome da preservação dos lucros espúrios das nossas maléficas elites.
12.11.2017