TRIIIIMMM, TRIIIIMMM...
- Deixa que eu atendo...
Esse alarme dos velhos telefones de mesa, era exclusivo das casas de pessoas de alto poder aquisitivo, os privilegiados que tinham dinheiro bastante para comprar aquele objeto de desejo universal, facilitador das comunicações entre clientes, amigos e parentes.
O som “cheirava” a urgência, era causa de apreensão pela possibilidade de comunicar notícias trágicas de mortes ou acidentes, principalmente se soasse antes ou após o horário comercial, porque os negócios e as conversas se davam presencialmente, no cara a cara e poucas pessoas tinham a noção das diferenças de fusos horários entre as nações aonde, os conhecidos, estavam em viagem ou residiam.
O telefone de mesa era um objeto grande, geralmente negro. Pesadão, dividido em duas partes, que se ligavam por fio espiralado, sendo o monofones um pouco mais leve que a base, onde ficavam o disco para a discagem e a sineta, embutida.
No Recife de minha infância, os telefones tinham apenas quatro números.
O telefone reinava imponente na mesa do diretor da empresa, do diretor médico do hospital, do delegado de polícia, na prontidão do corpo de bombeiros e também na sala de visitas ou no hall de entrada das casas sobre a mesinha que tinha cadeira acoplada e gaveta para a caderneta de anotações, canetas ou lápis.
Era chic ter a mesa do telefone forrada com toalha de croché, geralmente, branca.
As ligações de longas distâncias só podiam ser feitas com o auxílio da telefonista da concessionária, com hora marcada, mas nem sempre dava certo.
Com o passar do tempo, o uso do telefone se popularizou nas transações comerciais, os aparelhos foram modificados para concentrar várias linhas externas e muitos ramais internos, tornaram-se leves, substituíram o disco de discagem por teclas, o monofone grandalhão ganhou uma versão leve, fininha, adaptável à cabeça do operador, com microfone e fone de ouvido de alta performance, criou-se a profissão telefonista empresarial que era encarregada de fazer e registrar as ligações externas para conferir as faturas das concessionárias que, muitas vezes traziam ligações fantasmas, aquelas feitas pelos técnicos das telefônicas, quando das escadas ou armários de rua, faziam as ligações de sua conveniência.
As redes subterrâneas que durante as instalações causaram caos generalizado nas vias das cidades, foram abandonadas por conta dos furtos dos fios de cobre e os postes da iluminação pública foram transformados em espantalhos, monstrengos com quilômetros de fios pendentes em baixa altura que, quase sempre, enganchavam-se nas carrocerias dos caminhões, causando interrupção do serviço por várias horas ou dias.
Mas, felizmente, o tempo passou.
O progresso e a tecnologia fizeram com que aqueles objetos jurássicos fossem substituídos pelos telefones celulares, esses troçinhos quase tão finos quanto folha de papel, multicoloridos, com tela para se ver a cara do interlocutor e teclado para digitação da mensagem que se quer transmitir, que dispensam fios ou intermediação de telefonistas para quaisquer ligações, que cabem no bolso e entre as múltiplas funções (desnecessárias para a maioria dos proprietários) fazem, até, as raras ligações de voz para outros aparelhos que agora, em todo o Brasil, são identificados por onze números, sendo dois da região e nove da linha.
Nas ligações internacionais o procedimento exige mais números, mas sem qualquer complicação.
A ideia de elevado status social que o telefone emprestava ao seu proprietário perdeu o significado, porque na atualidade o número das nossas linhas telefônicas supera, e muito, o número de habitantes.