CLEUZA

 

É uma amiga que eu não via há muito tempo. Quando jovens, estudamos juntas no Centro Cultural Brasil/Estados Unidos. Morávamos ambas no mesmo bairro e, muitas vezes, ela me deu carona de volta para casa em seu fusquinha. Eu não tinha carro, ia e voltava de ônibus.

 

Terminado o curso, fiquei longo tempo sem vê-la. Fui reencontrá-la, um sábado, na feira do Alto da Glória. Estávamos ambas casadas e bem mais velhas, morando no Juvevê. Fiquei contente ao revê-la, mas logo vi que não era feliz no casamento, pois falou muito mal do marido. Disse-me que ele tinha duas filhas de outro casamento e que elas não a tratavam bem.

 

Depois desse encontro, passou-se novamente um longo tempo e a reecontrei na mesma feira. Agora já idosa, usando uma bengala e mais amarga do que antes. Disse-me que o marido havia falecido recentemente, depois de longa doença. Morrera em outro país, para onde uma das filhas o havia levado. Cleuza parecia não se importar, destilou mais rancor contra o falecido, que era muito sovina e que nem lhe deixara uma pensão ou recursos para pagar um plano de saúde. Que ela estava doente e vivia de sua aposentadoria como professora do Estado, o que não era muito e que nem lhe permitia contratar uma pessoa para ajudá-la com o serviço doméstico. Novamente, ouvi muita reclamação a respeito de seu finado marido.

 

Fico pensando: se o casamente era tão ruim, porque não se separaram, tomando cada um o seu rumo. Ninguém precisa conviver com alguém que não ama ou que julga injusto e sovina. É o que eu faria, mas no meu caso, tive um casamento feliz.

 

Prefiro nem encontrar pessoas assim. Melhor evitá-las. Esse poço de lamentações nos faz mal.

 

 

 

 

Os fatos e a personagem são reais porém, mudei seu nome para evitar quaisquer constrangimentos.

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 29/11/2022
Reeditado em 29/11/2022
Código do texto: T7660873
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