SALVADOR E A FILOSOFIA

Durante muito tempo da minha vida acalentei o sonho de conhecer Salvador, a capital da Bahia, A Terra da Felicidade. Mas, por mais que eu me programasse, a viagem jamais dava certo. Todas as tentativas de viajar a Salvador e descobrir as maravilhas das quais todos que visitam a cidade me falavam, eram fadadas ao fracasso: nunca se concretizava de modo que eu desisti da ideia e pensei: quando tiver que ser, será. E assim os anos se passaram, até que no feriado de 7 de setembro/2017, eu finalmente parti para a tão sonhada viagem a Salvador.

Devo confessar que tocar com meus pés, a cidade tão ansiosamente desejada de conhecer, foi profundamente emocionante. Fiquei encantada pelo clima de magia, alegria e a grande profusão de cores que envolve Salvador e eu não sabia para onde olhar, uma vez tudo era encantante aos meus olhos. A cidade é realmente deslumbrante, apaixonante, cativante. Salvador me conquistou com sua beleza, suas cores, seus odores e sua alegria.

A cidade, na minha ótica, tem algo em comum com a Filosofia. Como estudante da disciplina aprendi que alguns filósofos anunciaram a existência de dois mundos. Assim, René Descartes nos deixou sua contribuição sobre a dualidade entre os mundos formados pela mente e o corpo.

Platão também afirma que existem dois mundos; que a realidade é dividida em duas partes: a primeira ele nominou de mundo sensível, ou mundo material do qual nos apercebemos através dos órgãos dos sentidos. O segundo é o mundo das ideias ou mundo ideal, o qual ele denomina como o mundo da perfeição, lugar onde se encontra a essência de tudo.

Santo Agostinho, o doutor da Igreja Católica também faz uma divisão entre dois mundos: a Cidade dos Homens, na qual impera a corrupção humana e a Cidade de Deus – preparada pelo Pai para perdurar por toda a eternidade; lugar onde impera a justiça, a paz e a cura para todos os males.

Salvador também apresenta esta dualidade de mundos: de um lado o progresso acelerado apresentando seus prédios enormes; arranha-céus imponentes que despontam em direção ao infinito, demonstrando o grande poder econômico disponível para uma parcela da sociedade. E do outro, as casas mais simples; construções pequenas e humildes retratando a desigualdade social que impera no Brasil. Uma lembrança à cidade dos homens, onde vive a população mais desafortunada, marginalizada e esquecida pelo poder público.

A Filosofia, no meu ponto de vista, ainda está presente na geografia do lugar, que divide a cidade em duas partes: Cidade alta e Cidade Baixa. Construída sobre uma falha geológica, a cidade de Salvador se formou em dois níveis, que se interligam através de ladeiras surgidas com o tempo. O acesso entre as duas partes da cidade também pode ser feito através do Elevador Lacerda, construído no ano de 1873 e que se constitui num dos mais belos e visitados pontos turísticos da cidade.

Do alto do Elevador Lacerda descortina-se uma das mais belas paisagens que meus olhos já viram: a vista da Baía de Todos-os-Santos e do Mercado Modelo. O elevador transporta mais de 900 mil passageiros por mês, ao custo de quinze centavos de real por passageiro, num percurso que tem duração estimada em pouco mais de 30 segundos.

Outro ponto que lembra a Filosofia diz respeito ao sincretismo religioso presente na cidade e que, embora diversificado convive de forma completamente harmoniosa. Salvador respira religiosidade. Onde quer que se vá, é possível vislumbrar um ícone religioso que retrata a fé do povo soteropolitano.

Em cada ponto da cidade ergue-se uma Igreja Católica em cuja cercania, pode-se visualizar as imagens dos santos do candomblé, por exemplo, tudo na mais perfeita sintonia com os símbolos religiosos de outras crenças. Salvador é formada por vários mundos dentro uma cidade alegre, de um povo caloroso e festeiro. E por toda essa riqueza de detalhes e sua beleza estonteante, Salvador conquistou meu coração.