O VIOLINISTA
Durante a Pandemia, 2020 e 2021, não fui uma vez sequer ao centro da cidade. Antes ia frequentemente para compras de itens que não encontrava em meu bairro ou para cortar e tratar meus cabelos com a Carmem, que deles cuida há muitos anos. Quando o vírus deu uma trégua, voltei a ir ao centro, porém em tempos mais espaçados. Na última semana estive lá e achei tudo muito mudado. Grande número de lojas fechadas, com placas de aluga-se ou vende-se. Até o número de pedestres parece ter diminuído. Entrei em lojas grandes e tradicionais como Pernambucanas, Renner, Riachuelo e Marisa e achei-as tão pouco movimentadas...
A tarde caía e o céu se fazia escuro quando me aproximava da esquina das Ruas Monsenhor Celso e XV de Novembro, indo em direção à Praça Tiradentes, onde pegaria um táxi para casa. Foi nesse momento que meus sentidos foram despertados por uma música maravilhosa vinda desse local. Ao me aproximar, vi que um jovem a tocava ao violino. Ele usava uma roupa surrada e tinha à sua frente a caixa do violino com algumas poucas moedas.
Eu, então, peguei uma nota de R$5,00 e a depositei na caixa, ficando alguns minutos a apreciar sua música. O moço olhou para mim e gentilmente me agradeceu com um sorriso. Ao sorrir, vi que lhe faltavam alguns dentes da frente. Seu sorriso banguela era sincero, porém não deixava dúvidas sobre sua condição de pobreza.
A cena me comoveu. Que pena me deu ver esse jovem talentoso que não consegue viver de sua arte. Prossegui em direção à praça, pensando:
- Como a arte é pouco valorizada em nosso país. Eu o imaginei tocando em uma orquestra, ganhando um bom salário, sem ter que se sujeitar a essa situação humilhante de recolher, na rua, umas poucas moedas que não lhe permitem nem comer, muito menos tratar dos dentes.
Triste situação! Muito triste!