Opinões que divergem

 

                                        ... na boca de São Francisco

                                        só havia o aroma de Deus...

                                                            Agrippino Grieco

 

          1. Escrevo minha crônica de hoje - mais uma página sobre São Francisco das Chagas -, na companhia de três belíssimos escritores: Agrippino Grieco, Vinicius de Moraes e Mario Quintana. Os três escreveram sobre o Pobrezinho de Assis. O primeiro, em doce prosa, o segundo em belos versos e o terceiro, em um pequeno tópico, criticando, com surpreendente deboche, o santo "Padroeiro dos animais". 

          2. Agrippino Grieco, sobre São Francisco, disse que a história do Poverello "encanta sempre".           Tem a minha inteira concordância. A história de Francisco traduz, primeiro e acima de tudo, o seu amor a Deus; transmite uma indiscutível mensagem de paz; de humildade e de amor ao próximo. Amor ao próximo? Nos dias que correm, não se espante, meu caro leitor, se alguém lhe fizer esta pergunta: amor ao próximo? O que é isso? Francisco está pronto pra ensinar.

          3. Grieco nasceu no dia 15 de outubro de 1888 e morreu em 25 de agosto de 1973, no Rio de Janeiro.  De invejável cultura, adorava ler. Segundo seus biógrafos, ele tinha uma biblioteca com 50 mil livros. Foi crítico cultural respeitado, aplaudido e muito temido. Despertava temores porque não poupava os maus escribas. Fazia-lhes contudentes e irreparáveis críticas. Não era um crítico de elogios fáceis.

          4. Acabo de comprar, pelos olhos da cara, o seu livro "São Francisco de Assis e a Poesia Cristã". Para adquirí-lo, recorri ao "Mercado Livre"; nas livrarias não o encontrei. Faço sempre esta pergunta: onde estão as nossas Editoras? Por que não põem livros como este de Grieco à disposição dos amigos da boa leitura? Precisava; poupando-nos de perder tempo procurando, até nos sebos, obras raras sempre superfaturadas.

          5. Nesse livro, recolhi, no capítulo "Legenda franciscana", a opinião segura e sincera de Agrippino Grieco sobre o Pai Seráfico; além de belíssimos comentários sobre a acolhedora Úmbria, onde fica Assis, a terra natal do Poverello. Lá estive duas vezes, com Ivone, fazendo uma inesquecível visita ao túmulo do santo. Como é agradável andar, caminhar pelas ruas da medieval  Assis!

          6. Costumo dizer, como um visionário qualquer, que percorrendo Assis, à pé, a gente vai encontrar, numa esquina, São Francisco "contando histórias / pros passarinhos", como diz Vinícius, em belo poema sobre o Pobrezinho. Ou, num banquinho tosco, ouvindo o gorjeio das cotovias, ao lado de Clara de Assis (1194-1253), sua imorredoura paixão. Meu amigo leitor: vá a Roma e depois a Assis, mesmo que Francisco não seja seu santo preferido. De repente você volta de lá tendo-o como seu santo protetor. 

          7. Ainda no livro, lá está Grieco chamando Francisco de "Trovador dos humildes"; de "Homem sublime"; e a comparar o sorriso do santo "ao sol da bondade". Agrippino, num momento feliz, parecendo querer confirmar Francisco como um homem de poucas letras, afirma que "sua academia era Jesus". E, nessa mesma página, lembra que a vida de Francisco de Assis "foi pregar, orar e amar". Descrevendo a morte do Pobrezinho, deixou no seu livro que, na hora da partida, "a passarada entrou-lhe chilreando pela cela fradesca". Toda cela fradesca lembra São Francisco. Conheço várias.

          8. Vinicius de Moraes. Em adoráveis versos, o Poetinha também louvou São Francisco de Assis. Lembro o poema seráfico "A espantosa ode a São Francisco de Assis", onde ele se põe como um poeta menor diante da grandeza poética do Pobrezinho. Lembro ainda seu poema "São Francisco" de onde estraio estes versinhos: "Lá vai São Francisco/ Pelo caminho/ De pé descalço/ Tão pobrezinho" etc., etc., etc.

          9. Mario Quintana. Poeta, pensador, dono de belas frases, Quintana deu sua opinião sobre Francisco de Assis. Quintana, não sei qual foi ou era seu Credo. Sei que foi deselegante com São Francisco. Vejam. Interpelado, Mario foi curto e grosso: "São Francisco de Assis? irmão isso... irmão aquilo? Ah... mas ele só gostava dos bichinhos bonitinhos. Por que ele não falou dos irmãos vermes que pululam às cargas, em outras coisas horrorosas? Na irmãzinha aranha...  na irmãzinha jararaca... Só falou nas coisinhas bonitinhas. Ah, não...?"

          10. Saio em defesa de Francisco. Quintana, ao fazer estas declarações maldosas, ou não conhecia a vida de São Francisco, ou era mal informado sobre a vida do santo seráfico, ou, nesse dia, estava zangado com o santo  mundialmente conhecido como o "Protetor dos animais".

          Ele é o protetor dos animais, de todos, sem distinção. Quintana falou em jararaca e vermes.                  Olha, ninguém, até hoje, acusou Francisco de ter matado uma cobra, o que não se pode dizer do senhor Quintana. Tenho lido muito sobre o Poverello. Fui aluno dos franciscanos durante anos e nunca surpreendi ninguém querendo tirar de Francisco de Assis o título de irmão dos animais; de todos, sem exceção, repito.  

 

 

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 27/11/2022
Reeditado em 28/11/2022
Código do texto: T7659340
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