...ILEGAL, IMORAL OU ENGORDA.
“será que tudo o que eu gosto é ilegal, imoral ou engorda?”(*)
Foi com essa letra de música que saí do consultório médico há um mês.
Eu havia levado os mais recentes exames pro cardiologista ver, mas sabia que nos últimos tempos, os meus resultados não eram os mais recomendados.
Diante do homem de branco, sentia-me tal qual aquele garoto insubordinado, que sabe que não conseguiu ter nota suficiente nem pra fazer prova de recuperação, e trazia naquele instante o boletim mais vermelho que um tomate amadurecido para mostrar para o seu responsável assinar.
O número mais alarmante era o tal de colesterol, que apontava 283. O médico impassível, percebendo que as minhas primeiras argumentações eram pra tentar convencê-lo de que por força do destino; por conspirações astrofísicas , e que júpiter em contato com saturno talvez fizessem a atmosfera mudar, perante menor absorção de CO2; assim finalmente começaria a praticar exercícios.
Sem mais delongas, o doutor da medicina, sem mesmo desferir nenhum olhar por trás dos seus óculos, insofismavelmente fora taxativo: - meu amigo, se permaneceres com essas taxas assim não te dou mais do que CINCO anos de vida. Vou te passar um remédio pra ver se esses números reduzem, caso contrário, teremos que ser mais rigorosos no tratamento e na dieta alimentar. Por ora, vamos cortar todas as coisas que lhe dão prazer: Agora tudo deverá ser regrado, vamos cortar: batatas fritas, pão, arroz, carnes gordurosas, bebidas, cigarro, etc, etc, etc. E concluiu; aceite cortar essas coisas agora, pra não ter que se ver mais tarde tendo alguém a lhe dar comida na boca.
Depois de todas as imposições, antes de sair do consultório, ainda pensei em estender as duas mãos ao médico, sugerindo se não seria também interessante cortar os pulsos.
No caminho para casa, resolvi voltar a pé, afinal, como se diz por aí: “ a vida é caminhar”.
Dali fiquei a pensar: caramba. Não bebo, não fumo, não uso drogas, procuro ter uma vida até certo ponto regrada pelos bons costumes; sou torcedor do Fluminense, gosto de escrever os meus textos, e penso até que tem gente que gosta de mim e até do que escrevo; é bem verdade que são meus amigos, né. Devem ser suspeitos.
Costumo dizer que tenho primor por tudo que faço, no que trabalho, amo ser Representante Comercial, gosto de ser o que sou como profissional, penso que não sou só um vendedor, mas um sonhador, talvez um vendedor de sonhos.
Amo ensinar as coisas que sei, e sei que sempre mais aprendo quando me proponho a ensinar o pouco que apreendi. Prezo por um mundo melhor pra mim e para todos os que me cercam, e urge termos uma sociedade onde possa haver menos desigualdades, e que haveremos de ter um país mais justo para todos do mesmo ponto de partida.
Na vida, acredito que sempre precisamos ter argumentos. Quem tem argumentos, consegue vender até casa pegando fogo, mas para isso necessário se faz ser aplicado, indulgente, prestimoso, ter esmero, tal qual o ourives que se apaixona pela joia acabada, e por fim ser dedicado, tal qual o atleta para superar o sarrafo almejado.
As questões que me dizem respeito, onde posso ter controle nas mãos e que só dependem de mim, essas quase sempre, respondem precisamente as expectativas que me proponho buscar. Os números atingidos, são simplesmente a eficácia dos consequentes resultados.
Resolver as equações matemáticas, sempre teve meu apreço, pois uma reta sempre surge através de um ponto, quando esse junto a outro. Todavia, como em toda a via, (havia tempo que não escrevia assim), há pontos que não se tangenciam com retas infinitesimais entre a emoção e a razão. Acho que nem Freud e a Física quântica explicam isso.
Os diagnósticos dos diferentes médicos que me consultei, sempre apontaram que as minhas crises residem em torno de doenças psicossomáticas. Todas as coisas que me são caras, costumo me apegar; como gosto de ser intenso em tudo, até as minhas doenças também assim as são.
Costumo inclusive afirmar que até o meu carro é um ser inanimado de alta de sensibilidade, e que até em outras vezes tem vontade própria, conforme a tendência do seu dono.
Passados 20 dias após o receituário, busquei cumprir rigorosamente todas as exigências do rigoroso fiscal das curvas eletro cardíacas; confesso que a ansiedade me dominava a alma, tal qual aquele estudante que fora dado a oportunidade de fazer novas provas de recuperação de conceito.
Fiz teste ergométrico, tomei initerruptamente o remédio mais avançado da família da rosuvastatina durante todas as noites, e ao final só me restava agora abrir o envelope que apontaria qual seria a estrada a percorrer.
Ao deslacrar o documento, meus olhos correram imediatamente para o índice do ensaio enzimático. Nesse instante, na mesma velocidade, a lágrima incontida escorreu.
Aquele homem que por muitas vezes chorou silenciosamente as inúmeras pelejas de vitórias fabulosas de seus tentos, agora estava ali mais uma vez deixando se render diante da emoção por um número que há alguns anos não atingia. O resultado apontava: COLESTEROL TOTAL, soro 126 mg / dl
Gente, quem até aqui me acompanhou, pode dizer, lá vai ele com os seus argumentos de sempre, querendo contagiar quem?
Meus amigos, eu costumo afirmar que por cima dos meus quarenta e unsss anos de vida, quem quiser que acredite, sei que nem parece. Ter a certeza que estamos bem fisicamente, com corpo e mente sãos, não há presente melhor a receber.
Por poder continuar a desenvolver todas as atividades de forma plena e lúcida; acima de tudo, tenho que agradecer a Deus por essa dádiva, chegando a conclusão de mais um ano de tanta luta, mas que ao final, tendo a certeza que tudo que fiz de erros e acertos valeu a pena.
Cabe agora para terminar essa prosa, lembrar àqueles que passaram o ano todo me cerceando até o CAFÉ, saibam que como eu fui um bom menino e cumpri as metas estabelecidas. Agora quero ter tudo o que tenho direito. “no mar, por terra, ou via embratel”(**)
E que ano que vem, venha uma bandeja somente de coisas boas para todos nós.
PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS)
271122
(*) música de Robertos Carlos
(**) música de Cazuza