Disfunção cognitiva coletiva
O evento recente ocorrido na cidade de Aracruz no estado do Espírito Santo, no qual um adolescente de 16 anos anos invadiu duas escolas e matou três pessoas e feriu várias outras, mostra mais uma vez uma situação preocupante que está ocorrendo no país.
Segundo as notícias, o adolescente havia estudado em uma das escolas que invadiu, o que é indicativo de que ele podia ter “um assunto pendente” lá, me referindo ao aspecto psicológico.
Sempre que acontece esses crimes, o assassino não escolhe o local por mero acaso, invariavelmente ele tem alguma mágoa que não conseguiu superar.
Eventos desse tipo são sem dúvida lamentáveis.
Mas a “situação preocupante” a que me referi acima, mais do que esses eventos esporádicos, é a forma surpreendente com que muitas pessoas os analisam, quando mostram o quanto são reduzidos seus campos de atenção. Seria deficit de atenção adquirido na infância?
Acho a segunda hipótese mais provável porque parece uma anomalia transmitida de pais para filhos.
É evidente que os indivíduos que praticam esses atos têm sério transtorno psicológico, porque nem os criminosos que vivem em ambientes onde impera a violência, os cometem. O que também contraria a “tese” segundo a qual basta se ter uma arma de fogo para sair matando todo mundo que encontra pela frente.
Ninguém atira nos outros sem que seja levado por uma reação, impulso momentâneo ou, como no evento citado, tenha uma justificativa previamente elaborada para si próprio.
Os criminosos matam por motivos “profissionais”, jovens atiram em professores e colegas porque têm problemas familiares, muitas vezes associados com humilhação sofrida na escola.
Em ambas situações os agentes têm noção de que estão cometendo crimes e pode acontecer que, no segundo caso, o jovem antecipadamente planeje também o suicídio como forma de “escapar” da punição.
Não tenho intenção de me mostrar “entendido no assunto”, apenas levantei algumas hipóteses que servirão para ilustrar o tema deste texto.
Quando acontecem eventos como o referido, logo aparecem os “especialistas” para esclarecerem o “porque ocorreu” e invariavelmente, por deficit de atenção, intencional ou não, ignoram as motivações do agente e taxativamente atribuem sua atitude a um motivo estrutural, qual seja a “política armamentista”, mesmo no evento ocorrido no Espírito Santo, onde o pai do adolescente é policial militar e portanto, por exigência da função, possui armas de fogo.
Seguindo uma diretriz de grupo em vez de analisar a realidade, tais “especialistas” tem como padrão atribuir o racismo, a ignorância (dos outros) e a criminalidade a uma “estrutura” que só existe na cabeça deles.
Tais “especialistas” vivem num mundo paralelo, onde criam a própria realidade e assim se sentem a vontade para expor seu “amplo conhecimento” sobre qualquer assunto sem entenderem de assunto nenhum.
Os portadores dessa disfunção cognitiva, não veem que acima da realidade ignorada dos fatos ocorre uma outra, menos evidente porém mais implacável, que tem relação com nossa dificuldade de resolver problemas seculares, a nossa cultura de empurrar a parede em direção ao prego em vez de bater o prego com um martelo.