A moça de sorriso medicinal
A moça de sorriso medicinal, sorriso demolidor, passou pertinho de mim, com seu sorriso astral. Nem me deu atenção. Fiquei tão tristinho; e ela, completamente distraída.
Sorria para um céu azul, uma rua de paralelepípedos escaldantes, dois cachorros famintos e lúgubres, uma árvore terrestre, quando um camburão da polícia passava ostensivamente devagar.
As autoridades lhe deram boa tarde, ao que ela, mui educada, retribuiu com um "Para ôces também".
Fala tão charmosamente, a moça de sorriso medicinal. Chega a apaixonar. Nem parece da cidade, com seu jeito e sotaque campestres.
Onde aprendeu a ser assim?
Tão graciosa. Quando anda, parece que levita. Quando estanque, Monalisa. Demoradamente linda. Olhando assim, de frente, acho que parece anjo; olhando de lado, vem a certeza.
Será que doeu quando caiu do céu?
Acho que casaria com ela, se ela me aceitasse. A mim e a meus álcoois. Um homem que bebe, uma moça que rir: parece um casal perfeito.
Mas a moça de sorriso medicinal parece abstemia: como anda equilibrada em meio aos paralelepípedos escaldantes! De fato, só pode ser anjo, um anjo terrestre e abstêmio.
Um anjo sóbrio que ignorar um ébrio passante, sob a alegação de um céu tão lindo azul.
Pois saiba, moça de sorriso medicinal, eu te perdoou. Estais plenamente justificada, assim na Terra como nos Céus.