Mas o que é uma escola?

Ao final do dia 25 de novembro de 2022 o Espírito Santo está chocado, em luto, estarrecido com tamanha violência. No mesmo dia, dois estudantes invadiram escolas e cometeram atrocidades com colegas e professores. Um em Aracruz, que invadiu duas escolas com arma de fogo, outro em Colatina, que estaqueou colegas.

No dia anterior, o capixaba estava em êxtase. Richarlisson, capixaba de Nova Venécia, estreava na copa do mundo do Quatar com dois gols, sendo o segundo um primor. Em dois dias o capixaba ia do topo ao limbo, aparecia na mídia com alegria e tristeza, glória e decepção, euforia e caos.

Nós capixabas não aparecemos na mídia. Não simples vistos nos jornais e nem nos programas de televisão. Não aparece Vitória na previsão do tempo, nossos pontos turísticos são desconhecidos. Somos o primo pobre do Sudeste, espremido entre a Bahia, Minas e o Rio. Assim, aparecer na mídia é importante, mas queríamos apenas a glória do novo R9, não o caos do terrorismo escolar.

A Escola é palco para talentos como Richarlisson desabrocharem, ou pelo menos tentaram brilhar, mas que também vivência o terror de Aracruz e Colatina. Mas, o que é a escola nesse caos de um mundo líquido? Como a glória e o terror podem ser parte do mesmo ambiente?

Eu sempre amei a escola. Era boa aluna, mas era a menor da sala. Meus colegas implicavam comigo e eu com eles. Nunca me senti vítima de bullying, talvez tenha sido uma agressora (nem sempre a gente sabe quando ofende o outro), mas nunca soube. Eu gostava de estudar, ler, conversar. A escola era um ambiente seguro, tinha carinho dos professores, me destacava nas notas, apesar de conversar demais e receber bronca todo dia.

Eu gosto tanto de escola que virei professora. Não foi consciente, mas entrei nesse mundo e me criei. Aprendi a dar aula, a me relacionar com os colegas, alunos e pais. E então comecei a ver o outro lado da escola. A escola tóxica, que limita e segrega, que mata sonhos e cria monstros. Eu nunca criei monstros, mas sei que já matei sonhos e me arrependo por isso.

Na escola encontramos todos os tipos de pessoas e sonhos, projetos diversificados de vida em construção. Mas, temos um mecanismo único de colocá-los em prática. Isso mata sonhos. Esse mundo de gente diferente se relaciona na frente das autoridades de um jeito e no submundo dos intervalos de outro. Essas pessoas esquisitas que passam pelas escolas as vezes só querem uma palavra de incentivo, um abraço, um puxão de orelha com carinho.

Nessa escola que não sabe o que é, que as vezes é o único local normal de uma criança, mas que é vezes está tão anormal quanto os demais locais, é ali que vemos sonhos desabrocharem, como do Richarlisson, atleta, e de outros escritores, desenhistas, comunicadores, e outros talentos. Mas também vemos o terrorismo aparecer. Nem sempre como atentado de grandes proporções. As vezes é numa ameaça, num bullying, numa palavra mal-dita que destroça quem ouve.

Uma escola deveria ser um local de alegria, como era pra mim na infância. E eu tive uma infância complicada, cheia de problemas familiares. Mas lá eu amava estar! Como professora procuro fazer da escola o melhor lugar para meus alunos. Procuro passar segurança e conforto. Porque pra mim uma escola é um lugar de pluralidade, diversidade, esquisitice, aberrações, não no jeito pejorativo, mas no colorido e preto e branco que o mundo é.

Laryssa Machado
Enviado por Laryssa Machado em 25/11/2022
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