REMENDANDO MEIAS

O meu pai tinha o costume de remendar as nossas meias. Fazia isso com prazer, sem se preocupar em utilizar a linha da mesma cor, alegando que ninguém iria vê-las e usando um ovo de madeira que, acho, não se fabrica mais. O resultado era um monte de meias velhas remendadas com linhas coloridas que usávamos até ficarem esgarçadas de tal modo que não tivesse como remendar mais. Ele não fazia isso por mera pão-durice que inibisse de gastar dinheiro comprando novos pares. Fazia como resquício dos duros tempos vividos no Campo de Concentração, onde comer cascas de batata, quando pudesse, era quitute dos deuses. Assim aprendeu a dar valor a cada coisa, evitando jogar fora o que ainda tivesse serventia - como certa meia remendada ao extremo. Herdei esse sentimento dele e hoje, pela manhã, remendei uma meia minha, o que fez relembrar do saudoso Sr. Gerd, mais conhecido por Geraldo. Pena que existam coisas irremendáveis na vida, como a perda de pessoas tão queridas.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 25/11/2022
Reeditado em 25/11/2022
Código do texto: T7657449
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