O que é uma crônica?

Cresci ouvindo dizer que a crônica é um gênero literário genuinamente brasileiro. Esse misto de literatura e jornalismo teria nascido em território nacional. Porém, os estudiosos garantem que não. E vão buscar suas origens no ensaio, essa forma analítica e despida dos rigores acadêmicos que tem como mentor o francês Michel de Montaigne, lá no século 16. Ao ficar popularizado, o ensaio no século seguinte conquistou a imprensa inglesa no que se convencionou chamar “familiar essay”, uma espécie de comentário e devaneio estritamente pessoal veiculado em jornal.

No Brasil a crônica – nos moldes como hoje é conhecida – veio aparecer somente no século 19, quando o escritor José de Alencar em seu folhetim “Ao correr da pena”, comentava sobre os acontecimentos da semana na cidade do Rio de Janeiro, abordando assuntos relacionados à vida social, artes e política. E por que dizemos que a crônica é coisa nossa? O professor e crítico Antonio Cândido nos ensina que uma das razões foi “a naturalidade com que ela se aclimatou aqui e a originalidade com se desenvolveu. Ou seja, não inventamos, mas emprestamos a elas novas formas, que caíram no gosto do público”. Por isso que em todo o mundo a crônica deixou a cena e aqui continua contagiando inúmeros leitores.

E qual o assunto de uma crônica? Qualquer um, inclusive a falta dele. E foi exatamente isso que a moldou e fez com que muitos autores consagrados a utilizassem como manifestação artística. Por isso Antonio Cândido disse que esse fenômeno criou uma “raça de cães vadios, livres e farejadores do cotidiano, batizado com outro nome vale-tudo: crônica” Rubem Braga chamou de crônica a Carta a El Rey don Manoel, de Paro Vaz de Caminha.

Mas, finalmente, o que é de fato uma crônica? Como defini-la? Fernando Sabino responde: “Crônica é tudo que o autor chama de crônica”.

Adhailton Lacet Porto
Enviado por Adhailton Lacet Porto em 24/11/2022
Código do texto: T7656705
Classificação de conteúdo: seguro