DIÁRIO DE UMA PANDEMIA (Conclusões do relatório)
Sobre a causa da morte do desconhecido, ainda não temos informações precisas. Nem dá pra ter certeza de que o corpo encontrado sem vida seja do dono da casa. Nenhum dos vizinhos foi capaz de reconhecer, naquele corpo desfigurado, o vizinho. Todos confirmaram que pode ser, mas nenhum afirmou categoricamente. E, para a polícia técnica, só vale uma identificação positiva, na dúvida não há identificação.
Entre os escritos encontrados na casa e no laboratório, não foram encontradas referências ou endereço de algum parente. Com a finalidade de identificar, positivamente, o defunto, o delegado autorizou a imprensa a divulgar o falecimento com uma foto do dono da casa, na intenção de que algum conhecido ou parente se apresente para ajudar com maiores esclarecimentos a respeito do falecido.
Ainda existem várias perguntas sem resposta, sobre o falecido, sobre as circunstâncias da morte, sobre quem realmente era o dono da casa. Entretanto algumas conclusões já podem ser relatadas:
Ainda não foi possível uma identificação positiva, daí a pergunta permanecer sem resposta: de quem é o corpo encontrado na casa? Do seu proprietário ou de outra pessoa? Nesse caso, de ser outra pessoa, onde está o proprietário? Quem é a pessoa morta?
Os vizinhos afirmaram que antes da pandemia, o dono da casa viajava bastante, parece que ministrando cursos sobre saúde amazônica e sobre o potencial medicinal da flora amazônica. Entretanto, possivelmente devido à pandemia, andava meio recluso, nos últimos tempos, mas mantinha sua rotina de breves passeios pelas redondezas e compras regulares no comércio local. Talvez por conta disso, sua agenda estava praticamente toda em branco, com algumas datas rabiscadas e a anotações ilegível. Isso demanda uma análise técnica. O que foi rabiscado? Por qual motivo? Era um compromisso ou apenas uma anotação?
As inúmeras anotações, em seus cadernos de laboratório ainda estão sendo analisados, pelas universidades do sul do país e pelos peritos da polícia federal que também passou a investigar o caso, devido às possíveis interligações com o presidente;
Ainda não se fez a devida identificação da vizinha mencionada no diário, ora transcrito e digitalizado, pois das três que se encaixam no perfil apresentado no diário, uma está morta vítima do vírus da pandemia. Outra ficou muda e perdeu algumas funções do cérebro, devido ao tratamento com medicamentos não autorizados pelos profissionais da saúde, mas anunciado como eficiente, pelos assessores e pelo próprio presidente. A terceira continua internada e não pode falar por causa dos tubos que a estão mantendo viva. As três atingidas pelo vírus da pandemia.
Este diário, no caderno original, também será submetido a análise por especialistas das áreas das ciências gráficas e da saúde, visto que em mais de uma oportunidade seu autor menciona a possibilidade de cura contra o vírus do mal ou um antídoto. As informações deste diário, em tempo oportuno, serão comparadas e confrontadas com o outro caderno que já está sendo periciado.
Este é o relatório, que depois de aprovado pelo delegado, será encaminhado aos órgãos e instituições competentes para que sejam encaminhados os procedimentos necessários para diligências e investigações pertinentes.
Rondônia, 31 de março de 2027