Entretanto, sempre haverá um, entre tantos

Chegou no reduto conhecido por Boca Maldita (uma livraria) dizendo ser professor aposentado e querendo novos ares. Chega de cidade grande! Nome? - Borges -, mais tarde descoberto que era Vicente Borges.

E não havia assunto que ele não interferisse. Didático, expunha seu ponto de vista com firmeza. Quando contestado ou percebendo não estar agradando, vinha com “entretanto...” e tudo se normalizava.

Disse que Santos Dumont não é o pai da aviação, e sim os irmãos norte-americanos Wright. Entretanto, quando eles voaram em 1903, ninguém filmou. Encorajou-se a invadir Cuba expondo que o governo de Fulgencio Batista era apoiado pelos EUA que queriam fazer da ilha um bordel. Entretanto, observou cuidadosamente, “Cuba está bem... Não se ajoelhou... Cubanos não chegaram a conhecer a tirania da globalização”.

“Robert Kennedy (irmão de John) assassinado durante a campanha, seria eleito presidente dos EUA. Entretanto, a indústria armamentista e/ou a máfia, matariam ele da mesma forma”. - “O cantor Roberto Carlos é produto de gravadora, rádios, revistas e TVs. Entretanto, ele não existindo, haveria outro ‘rei’. Talvez pior”.

Um dia surge no meio, Serafim. E quem era Serafim? Ninguém. Isto é: sem diploma. E foi colocando contra a parede os ‘entretanto’ de Borges que, a bem da verdade, muitas vezes eram dúbios.

Vendo o brilho de sua coroa diminuir, Borges foi aos poucos afastando-se. E Serafim assumiu o poder. Entretanto Serafim tinha um problema com dicção - ou seja: era gago. E quando ficava nervoso, não saia nada. Constrangido seguidamente, também se retirou. O trono estava vazio. E Borges voltou. Entretanto... Os tempos eram outros. A clientela ‘quase’ outra. E seus ‘entretanto’ foram ficando sem graça.

Conclui-se: sempre haverá um. Entretanto...