INSPIRAÇÕES DO CLAUSTRO ( PARTE 1 )

O ano não me lembro com exatidão, talvez 1997, possivelmente isso. Na época eu estava no colegial, segundo ano, provavelmente, perdoe-me a terrível falta de memória. Na ocasião eu estudava na escola Honorina Rios de Carvalho Mello, uma boa escola, com professores excelentes, uma diretora linha dura como costumávamos chamar, Fernanda era o nome dela, sempre atenta a todos os detalhes. A escola ficava na cidade de Alumínio, bairro progresso.

Naquele momento singular da minha vida, na aurora dos meus dezesseis anos, descortinou para este que vos escreve, a religiosidade. Imagino que por influência da minha mãe e avó, sempre de bíblia e terço nas mãos. Nunca fui um adolescente inclinado para bagunças, rebeldias ou qualquer coisa do tipo. Desde os onze anos que passei a morar com o meu avô, minha vida era escola e trabalho, uma educação quase militar do meu avô me direcionou para os movimentos religiosos do catolicismo da época.

Aos poucos, o desejo eclesiástico foi aflorando dentro da minha alma, como uma semente que nasce e vai crescendo lentamente, assim foi o desejo pelo sacerdócio católico dentro da alma. Era o que eu queria naquele momento, foi tão forte que eu não consegui segurar. Falei com os meus avós, na época eu morava com eles, contei-lhes das minhas intenções religiosas. No primeiro momento ficaram sem entender, duvidando eu acho, adolescente ainda, parecia muito precoce para ter tais inclinações. É claro que havia outros desejos trancados na caixa do peito " mais tarde falarei deles". Comunicado a todos, comecei a procurar por um seminário. Redentoristas, Carmelitas descalços, seminário diocesano de Osasco, por fim, meio que ao acaso, encontrei um que me agradou demais. Legionários de Cristo na cidade de Arujá, um belíssimo seminário com uma estrutura excepcional.

Feito os primeiros contatos, as conversas iniciais, agendei com os padres uma visita em minha casa, que foi muito agradável e produtiva, na época eu morava com os meus avós, na cidade de Alumínio, vila Brasilina. Como dito anteriormente, eu deveria ter meus dezesseis, se não me falha a memória, estava no colegial, trabalhava meio período no supermercado do meu tio, a expectativa de um mundo novo tomou conta de mim. Semanas depois, veio uma carta dos padres aceitando minha admissão no seminário, mandaram a lista do que eu precisava, roupas, camisas, calças sociais, enfim, tudo deveria de ser identificado com as iniciais do meu nome. O dia de ir embora para a nova vida, 'religiosa', se aproximava, eu já respirava ares de um seminarista, os meus familiares começaram a levar a sério a minha decisão, a minha avó, católica assídua, integrante da legião de Maria, era uma felicidade só. Os meus pais, na ocasião, residiam Minas Gerais, devido a essa minha decisão, resolveram mudar para São Paulo, chegariam antes da minha partida.

A minha família, na grande maioria católica, teriam um membro padre, eram as rezas de minha vovó e mãe sendo atendidas, diziam alguns primos. Mamãe havia chegado de Minas, não se cabendo de alegria, abraços e beijos no seu "futuro padre". Comecei a organizar as camisas brancas, calças sociais pretas, cuecas, meias, toalhas, tudo pronto e identificado, mala feita. Era o final de ano, figuravam os primeiros dias de férias. Uma vez no seminário, dando tudo certo, eu faria o terceiro colegial na escola do próprio seminário. O dia chegou, os dois padres que vieram me visitar anteriormente, retornaram, estavam prontos para levar o adolescente desejoso em retornar como padre, vieram em uma Van. Despedidas, abraços, lágrimas. A face iluminada da minha avó e mãe, de uma alegria e orgulho que não cabiam nelas. Um último aceno, o adeus de um adolescente determinado a retornar como sacerdote.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 20/11/2022
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