ATENÇÃO, PESSOA IDOSA NA REDE

Paulo Cezar S. Ventura (@paulocezarsventura – pcventura@gmail.com)

Caiu na rede é peixe? Esse ditado popular vale também para as redes sociais? Parece que sim. As pessoas em geral têm a crença que pessoas idosas não são afeitas às tais redes sociais, o que não é verdade. Há casos e casos. O meu caso é fora da média, porque trabalhei como professor e pesquisador em uma instituição pública federal e estar atento às novidades tecnológicas fazia parte de meu trabalho. Quando a instituição em que eu trabalhava montou o primeiro laboratório de informática para uso dos professores, em mil novecentos e noventa, lá estava eu frequentando-o assiduamente. Escrevendo em Word Perfect, um programa que não mais existe. Devo lembrar que em mil novecentos e setenta em um, meu primeiro ano na UFMG, calouro de Física e cursando a disciplina de Cálculo Numérico, tive que aprender linguagem Fortran para criar softwares. Nunca cheguei a nerd da informática, mas ela foi companheira mais ou menos próxima.

 

Com relação às redes sociais, passei direto pelo Orkut, nunca o usei. Quando surgiu o Facebook lá estava eu em suas fileiras. O Google surgiu como navegador e eu fui usuário desde o nascimento. Meu e-mail nessa plataforma/navegador é usado, o mesmo, há muitos anos, desde os primórdios. O Twitter também. Tive mestrandos em Letras que pesquisaram, e defenderam suas dissertações, as linguagens e aplicações do Twitter. Snapchat não me seduziu, Instagram sim. E hoje estou no LinkedIn, Medium.com, Recanto das Letras, YouTube, tenho quatro blogues na Blogger, TikTok ainda não, não acho graça, e WhatsApp se tornou obrigatório.

 

Ou seja, sou uma pessoa idosa antenada. Não pensem, no entanto, que passo horas nas redes sociais. Não passo. Amigos vivem me xingando porque me mandam mensagem pelo WhatsApp e eu demoro a ler e responder. Ora, ora, respondo quando quiser. Não ficarei olhando para o telefone a todo momento para verificar mensagens. Se for urgente, telefone.

Na solidão da pandemia, as redes sociais foram muito importantes para manter a comunicação com os parentes e amigos e salvar a mente da doideira na solitária de nossas casas. E aí esteve perigo. Sempre. Muitas pessoas idosas, já acostumadas com a solidão que faz parte da vida de muitos de nós, encontraram nas redes sociais uma vazão para se sentir próximo de algo que fosse própria da vida delas, sem interferência de ninguém. A facilidade do uso dos aplicativos nos telefones smartphones permitiu a comunicação via Facebook e WhatsApp, principalmente.

 

Qual o perigo, então? A vulnerabilidade das pessoas idosas com relação às crenças nas tecnologias faz delas um alvo fácil para aproveitadores de várias espécies. Pelo WhatsApp chegam comunicados pedindo dinheiro urgente de pessoas que usam perfis clonados de parentes delas. Muitas caem na rede. Pelo Facebook elas assistiram ou leram um discurso fake de políticos dirigindo-se especialmente a elas, pessoas idosas solitárias, exatamente falando mal de políticos que não cumprem promessas de campanha. É palavra certa de pessoas que dominam perfeitamente o marketing digital e sabem exatamente com quem estão se comunicando. Não demora muito elas são convidadas para grupos de WhatsApp e se tornam adeptas e se sentem protagonistas de atividades políticas. Foi assim nas últimas eleições.

 

É possível reverter este processo? Sim, com muita atenção e afeto às pessoas idosas. Muita conversa, muito café com pão de queijo (não só em Minas Gerais) e, principalmente, muita demanda a elas para que se sintam respeitadas e protagonistas de ações diversas que façam com que se sintam importantes, enquanto tiverem autonomia de pensamento e locomoção. Não sei se há outro caminho.

 

 

Paulo Cezar S Ventura
Enviado por Paulo Cezar S Ventura em 19/11/2022
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