ALMESQUEIRA: PIQUIIQUE E PEQUIS

Do alto da ladeira, olhávamos maravilhados admirando o verde marinho dos canaviais, buritis e carnaubais que cobria toda extensão daquele brejo. A revoada rasante das casacas e seu pouso singelo nos pendões da cana-de- açúcar, enquanto ecoava entre as fileiras do milho verde o canto afinado do pássaro pretos e dos sábias. Tudo ali, era colírio para os olhos e sinfonia para nossos ouvidos.

Era final da década de 70, ou início dos anos 80. Já era uma festa vir todos a pé pela antiga estrada de terra que atravessava o Bangues, passava pela Boa Esperança e chegava na Almesqueira. Estação das chuvas, cheiro de terra molhada, as ramas de salsa invadindo a estrada, diversão pelo caminho com as beringelas, conversas amistosas e sorrisos, muitos sorrisos.

Na chegada, a plenitude da atração maior daquele encontro de amigos: o beco da Almesqueira. Como disse o poeta, “colocamos nossos pés no riacho e acho que nunca os tiramos”. Fomos tão crianças naquele momento, que certamente perpétua até hoje, aquele sentimento. Mas era preciso atravessa-lo para chegarmos ao terreiro da antiga morada dos tios, Juscelino e Doninha.

O terreiro da casa, boa parte dele, sombreado por aquela majestosa árvore, o pé de pequi, era o nosso palco local da confraternização, do nosso piquinique. Uma geração marcada pelo bom senso da convivência, da precisa e sincera amizade. Tempos em que pouco nos ofereciam de lazer, no entanto, a criatividade funcionava e a gente simplesmente, inventava.

A cerca de velhas estacas e arame farpado, que margeava o terreiro, era nosso armário natural. Ali, entre os paus da cerca, cobertos por pés de malvas e algumas “moitas”, era guardado nosso ranche. Eram pequenas latas e alguns utensílios de plástico com bolos, arroz e muita galinha caipira mergulhada na farofa.

No transcorrer do dia, um clima de harmonia envolvia a todos e eram muitos, os participantes daquele piquenique. Brincadeiras foram realizadas, dentre elas, a disputa de corrida na descida da ladeira e o triunfal mergulho na água corrente do beco da Almesqueira. Irresistível!

Chegada a hora da refeição, comida compartilhada e a todos servida. Como esquecer a mordida na coxa da galinha com farofa, misturada ao filete do pequi. E afirmam, ser daquela árvore, o mais carnudo e saboroso pequi da região. Quem provou, aprova.

Um fato inusitado aconteceu naquele dia. A chegada do Sr. João leal ( que boa recordação, lembrar dele neste texto), com um objeto na mão e correu atrás de Bilar, seu filho. Este ganhou a mata e até hoje não sabemos o motivo, nem se o alcançou. Acredito que não, o cipó era longo e grosso!

Um dia que nós participantes não esquecemos jamais. A vida é feita de momentos e recordá-los, não é apenas ser saudosista, mas ter a certeza que muito valeu a pena tê-los vivido e com orgulho poder narrar a história.