DIVERGÊNCIAS
Chega um momento em que o amor da nossa vida vai embora.
Depois do jantar, ele pega sua bagagem de mão atravessa a porta e vira a chave. Sem despedidas ou um ruído qualquer de arrependimento. Ele vai e a gente fica.
A gente fica no meio da sala com a alma sangrando no tapete e uma cruz absurdamente pesada nos ombros. Enquanto ele parte livre e leve como uma pétala sobre a brisa a gente fica em meio a um tornado quase sem poder respirar. Tudo que ele não levou fica em nós sem que possamos devolver.
Compreende-se que para essa dor não tem remédio e só o que basta é senti-lá.
Todos nós passamos por isso em algum estágio da vida. Por vezes a casa fica silenciosa e vazia e por outras podemos ouvir o choro abafado de uma criança que acaba de perder a comodidade do recinto familiar. Sempre há um sorrindo e o outro não.
Ele se vai e está pronto pra recomeçar enquanto nós precisamos de muitas taças de vinho e solidão para poder se recompor e talvez em seis meses ou mais voltar a sorrir.
E ainda tem a burocracia, a sociedade incompreensível e a dura tarefa de ser mulher nos dias atuais. Somos quase que execradas por ser quem somos e duramente castigadas pelo julgamento alheio.
Nós nos dividimos entre o trabalho, as contas do mês, a manutenção da casa e as tarfeas escolares do filho. Ele já tem um novo emprego, um apê cheio de copos de uíque e amigos . Já tem um encontro no final de semana e alguns contatinhos nas redes sociais. Não é justo e tampouco sensato mas a lei é essa.
E depois que o tempo ameniza a dor com a fina película da aceitação, vem a maturidade e começamos a entender que ele já deveria ter ido embora há muito tempo mas eramos nós que barravamos a porta.