VIAJANDO DUAS VEZES (TAMBÉM EM MEUS PENSAMENTOS)
“Para viajar basta existir”
Desloco-me do Rio de Janeiro
Em direção à linda Paraty
Mais especificamente para sossegada praia de Jabaquara
Seguindo pela rodovia Rio-Santos
Passaria velozmente o tempo do exílio sem que alguém perceba?
Às vezes passa lento ainda que seja o mesmo... tempo!
E no que por ele vamos percebemos “coisas” que não queremos
(ou, melhor dizendo, porque não gostamos)
Da viagem a se fazer nem tanto aprazível!
Mas, com certeza não foi esta
Realmente, às vezes, não sei se quero chegar logo ao destino
Ou se não me importaria de s’estender um pouco mais a viagem
E por quê?
A paisagem é belíssima
E s’eu pudesse, viveria só viajando...!
Amo o solo em que nasci
Este país de incríveis belezas
Mas, uma vez ou outra, sinto-me com um estrangeiro em minha
... própria terra!
Deixa quieto!
E do lado esquerdo do ônibus em que ia, admirava o que pela janela assistia
Um infinito (ao que parecia) manto azul
Como qu’esticado e liso em seu leito
Ainda que n’um mar ziguezagueante em suas ondas
Haverá algo mais profundo que o mar.... que [aqui] não sabemos?
Dos substantivos concretos, não creio
Não no mundo
Contudo, o céu estaria “fora” do mundo?
Onde começa a vida?
E em que lugar (se realmente há) termina?
Passado e futuro um dia, quem sabe, se abraçarão?
Início e fim s’encontrarão?
Talvez?!
O mar presente a se fazer ante meus olhos
Na estrada em que nela minha vida nest’hora corre
Desta que, por Deus, eu até pediria [ao motorista] que o ônibus parasse
Só para ver o mar
Oh! Seria ele – o mar – uma entidade pensante?
Pergunto assim para mim onde imagino quantas “ideias”
... em seu interior abrigaria (caso ele pensasse)
Mas a terra, oh! esta, sim, carrega em sua superfície mil conceitos
Contudo, melhor também deixar p’ra lá!
A viagem prossegue...
Oh! Que maravilha!
E percebo o céu... e contemplo o mar
E outra pergunta a mim faço:
“O que eles na verdade guardam ao que precisaríamos saber?”
Nenhuma reta existe mesmo no final d’horizonte
Do espaço a ser, na verdade, curvo
Como o próprio tempo em seus movimentos
Já que tudo volta (pelo menos no prazo deste mundo)
E a estrada se faz sinuosa (como a própria vida)
Oh! como alguém chegaria ao seu destino caso não houvesse
... nenhuma placa?
E no percurso da vida quantas são tão enganosas!
E são tantas curvas...!
Às vezes o mar se “revolta”
Tê-lo-ia raiva da vida?
No entanto, n’àquela hora parecia estar... em completa paz
A saborear o Nirvana!?
O mar!
Talvez, sei lá, ele pensa
Todavia, não se ostenta nem s’envaidece como nós, mesquinhos humanos
Ao que não se sente superior a qualquer coisa que [aqui] está
E nem a si dá alguma importância
Pois, seus olhos miram para o alto [o tempo todo] ... a ver o céu
Este, sim, a ser maior que tudo
E a ser fonte de tudo
E, após ter passado por Angra, um pouco mais adiante,
... chego finalmente em Paraty
Passou tão rápido!
Pois é, tudo é tão fugaz!
Quando a Morte me chegará também?
15/11/2022
IMAGENS: FOTOS POR MIM TIRADAS E TAMBÉM DA INTERNET
MÚSICA: “AO LONGE O MAR” - MADREDEUS