D.L.G.

Conheço-o há décadas e, por diversos períodos estivemos próximos. Lembro-me de um ditado da sabedoria popular que diz “quando fulano está com você e põe-se a falar mal de outros, você será o próximo assim que se afastar”. E com esse olhar eu observava como DLG se relacionava com pessoas que lhe eram as mais próximas. A serpente que encanta o encantador.

Ele sofre da síndrome do escorpião. Um escorpião precisando fugir de uma enchente pede para subir nas costas de uma rã para levá-lo a salvo. A rã retruca que ele a picará causando-lhe a morte, o que ele nega enfaticamente. Ele não picaria alguém que o ajuda. A rã atende seu pedido e chegando à outra margem, sente o aguilhão e mal tem tempo para dizer “mas você prometeu...” ao que o escorpião responde “desculpe, é a minha natureza...”.

DLG não estudou, não se capacitou. Chegou a ganhar dinheiro, mas nunca aprendeu como usá-lo. É governado por desejos que o levam a compras impulsivas. Quando morou, “de favor” como se diz, na casa de W. chegou ao ponto de instalar um cadeado na porta da sua geladeira, para horror do pai de W. Inveja, mesquinhez e avareza são sobrenomes de DLG.

Por anos, morou “de favor” na casa de O. Exigente, reclamão, sem nada oferecer em troca. Agia como se os amigos tivessem a obrigação de dar-lhe guarida. A mãe de O. conseguiu decifrar o caráter de DLG e, por isso, era profunda e veladamente odiada. Aliás, DLG foi curtido no ódio; enfrentou inúmeros problemas de saúde graves, mas sobreviveu graças à energia do ódio que carrega em si. O ódio a tudo e todos é seu grande aliado.

Assim que DLG se dava conta de que não conseguiria mais extrair algo de alguém, afastava-se, como se aquela pessoa jamais houvera existido. Nesse momento, entrava em ação sua amnésia conveniente: ele alegava nem se lembrar mais dos fatos. Ele deleta fatos e pessoas de sua memória assim que o agraciaram com benesses e favores. É a síndrome do escorpião em ação.

Para mim, como observador, era como que um jogo, aguardar o momento em que sua mente perversa produziria algum fato para justificar seu afastamento. DLG continua até hoje sendo um aproveitador, um oportunista, um usurpador. Um golpista. Um ser de caráter rasteiro.

Depois de O., vieram tantos outros que observei: S., A., G., L., I., T., R., R., D., eu etc. Só na minha contagem, mais de uma dezena de pessoas que foram usadas, sugadas e descartadas pelo golpista. Ele chegou a divulgar que havia morrido para se livrar de pessoas que haviam caído em seus golpes quando morou em algumas chácaras na região de Arujá.

DLG tem apelo sexual zero, então essa não é a via pela qual ele aborda suas vítimas. Ele aproxima-se de pessoas de boa situação financeira, como sendo um homem simples, modesto, sério, solitário, desapegado de tudo o que é material. Medita, ama o silêncio, faz práticas espirituais e alimentação saudável. A imagem perfeita do abnegado que se põe acima das vicissitudes terrenas. Um enigma que gera certo fascínio. E tudo não passa de encenação. Quando afirma ter estado em meditação, estava ou dormindo ou jogando no computador. Come secretamente de tudo que classifica como “porcaria”. Uma vida de embustes.

DLG nunca pede; ele sabe que perde a força ao pedir. Seu estratagema golpista é bem mais refinado: ele consegue levar suas vítimas a oferecerem-lhe auxílio. Então, ele dispensa a oferta de ajuda, declina, alega que não quer dar trabalho, que não quer importunar, não quer ser um peso na vida de ninguém. Essa última colocação costuma ser a chave que lhe garante o acesso a tudo. E ele consegue ser tão convincente nessa atuação que a vítima invariavelmente faz questão de ajudá-lo agora, diante de todo esse desprendimento típico de seres superiores.

Situação: ele quer ser levado de carro até uma floricultura. Técnica golpista: ele não pede nada, mas diz “faz tempo que você não sai de casa. Por que a gente não dá um passeio para você espairecer um pouco?” ou outra técnica infalível “de vez em quando temos que dar um osso ao cachorro”. O passeio termina na floricultura, onde ele realiza suas compras e a vítima ainda se sente gratificada por ter podido passear. Outra técnica do estelionatário de sentimentos é dizer “já é o terceiro Uber que se nega a me levar até a floricultura...” e, de pronto, seu interlocutor, a vítima, oferece-se dizendo “por que você não falou comigo?”. E mais um golpe bem-sucedido.

Há os golpes que envolvem dinheiro, outra variante: “lembrei-me, ontem, de como você gosta de um Big Mac e fiquei com uma vontade daquelas também, mas você sabe, eu não posso gastar nada; meu cartão está no limite. Vamos trabalhar essa vontade até desaparecer”. E a vítima do estelionatário diz “que nada! Um Big Mac seria uma boa. Vamos, eu pago!”. Ele recusa duas ou três vezes e sai-se com essa “eu sou contra, mas já que você insiste, acompanho você”. Outro golpe bem-sucedido. DLG aperfeiçoou-se na arte de nunca pedir e sempre conseguir que suas vítimas lhe façam a oferta. E insistam na oferta; isso parece dar um sabor especial ao seu golpe.

E como ele consegue isso? Lá vão-se anos e anos de treino aplicando golpes em pessoas sozinhas, carentes e generosas. Ele jamais escolhe gente mesquinha como ele mesmo.

Na fase de recrutamento de uma vítima generosa, ele mostra-se solidário e empático. Oferece-se para ajudar em algo; essa oferta raramente é aceita, mas marca pontos positivos na sua carteira de benesses. Junto com essa oferta, ele se apresenta como quem leva vida simples, modesta e vai monitorando as ações até sentir que a vítima quer ajudá-lo. Em alguns casos, a vítima insiste em ajudá-lo. Precisa ajudá-lo! E, assim, nunca haverá cobrança por retorno; a própria vítima insistiu. Insistiu porque foi induzida. Insistiu porque foi deliberadamente conduzida ao engano.

Hoje, DLG mora em um sobrado mobiliado, mantém jardim e meliponário. Exceto por uma máquina de lavar, um micro-ondas, uma cama box, um conjunto de poltronas e algumas peças de roupa, tudo, absolutamente tudo ele “ganhou”: o sobrado, o home theater, a TV, dois computadores, fogão, tanquinho, nova rede elétrica e hidráulica, pintura, corrimão da escadaria, celular, plantas, colmeias. Até o saldo bancário é fruto de doações e dos gastos que ele não teve com compras de supermercado e de materiais de construção. Exceto por cinco ou seis itens, nada ali foi obtido com recursos de DLG. Ou sim; tudo foi obtido por seus recursos de hábil golpista usurpador, de oportunista e aproveitador que se esgueira com seu caráter rasteiro.

E por ser traidor, pois suas vítimas – todas – são descartadas para que ele não se sinta devedor. Ao descartá-las, deleta a dívida da contabilidade celestial. Afinal, todos não fizeram tudo por vontade própria? Seu pai foi o primeiro a identificar que DLG, ainda criança, era má cepa e o fez correr de casa. O pai e toda a família dele sabem: D.L.G. não presta!

René Henrique Götz Licht
Enviado por René Henrique Götz Licht em 15/11/2022
Reeditado em 18/11/2022
Código do texto: T7650141
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